Querido, quero dizer que não te pertenço, muito porque estás longe, mais ainda porque o olhar, o sorriso e a temperatura morna do corpo de um certo Luiz Gabriel – que é o próprio Luiz Gabriel – me perfuram a ponto de eu não poder ser de ninguém, uma folha tão seca que se algum idiota tentar pegar vai esfarelar.
Como consolo te digo que sou burra, te digo que sou louca, porque sei que sou mesmo, e que jogo fora o reinado com que me coroastes pra me sentir folha seca, com a certeza que só os muito loucos tem das incertezas da vida.
Pertenço a alguns cantos do mundo que sequer me viram quando estive neles, e que só eu sei ou nem mesmo eu sei onde exatamente me doem. Pertenço a sonhos e a músicas que habitam certos lugares que sequer me viram passar, mas que se instalaram corrosivamente nalgum pedaço de mim que não alcanço com as mãos ou os olhos. Pertenço à música que ressoa dentro do meu corpo e que me despedaça com seu vício destrutivo, e pertenço aos pedaços que dançam ao som disto tudo que está perdido aqui dentro. Pertenço ao espectro branco das espumas do mar.
E queria muito, querido, mas não te pertenço.
Talvez mereça, mas não te quero, Caminho-De-Volta-Pra-Casa.
É tarde pra pertencer - talvez também seja cedo - porque agora já me doei inteiramente ao abismo acústico que se abriu em mim. Por ora me condeno a mãos eternamente vazias, e um formigamentozinho de insegurança torce pra que nada nunca me absolva.
Seja feliz como sou, folha seca que sou, louca que sou, perfurada que estou.
Talvez algum dia uma sobrinha não entenda o que os gatos todos da rua entenderão: eu te dizendo agora, como digo ou ouço sempre: por favor vá embora...
Inês.
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
rosário
Dona aranha tece teias invisíveis, longas como míticas teias do tempo, e que dançam como as asas peroladas de um Dervishe.
Notas de piano são gotas.
Dona Inês dança no ar, submersa num sonho de luzes e névoas, e as teias todas da vida lambem seu corpo, dançando como longos cabelos de fios de cetim.
Notas de violão são pérolas.
Dona Leopoldina canta com a maciez de uma cera quente só que morna escorrendo numa pele molhada, e a sua voz parece um passarinho voando por outros poemas, e o seu canto parece um conto sobre dias do passado reverenciados por sua mágica dolorida e cintilante.
Notas que cintilam... Notas são lugares.
Dona Inês delira entre gotas e pérolas, luzes e cetim, e a baranguice do seu próprio canto que expolode violentamente perfurando o ar transforma-se numa balada russa, açucarada e tirana.
Nesta noite os anjos virulentos que beijam meu corpo me prendem neste sonho em que notas são asas e melodias pinceladas impetuosamente em telas brancas.
As notas me atravessam como névoa a poros. As cores me atravessam. As pinceladas. Os anjos.
Atravessada por lugares, danço etérea com roupas de Dervishe sobre grandes asas de cetim.
Dona aranha dança...
Leopoldina tece...
Eu canto.
Inês.
Notas de piano são gotas.
Dona Inês dança no ar, submersa num sonho de luzes e névoas, e as teias todas da vida lambem seu corpo, dançando como longos cabelos de fios de cetim.
Notas de violão são pérolas.
Dona Leopoldina canta com a maciez de uma cera quente só que morna escorrendo numa pele molhada, e a sua voz parece um passarinho voando por outros poemas, e o seu canto parece um conto sobre dias do passado reverenciados por sua mágica dolorida e cintilante.
Notas que cintilam... Notas são lugares.
Dona Inês delira entre gotas e pérolas, luzes e cetim, e a baranguice do seu próprio canto que expolode violentamente perfurando o ar transforma-se numa balada russa, açucarada e tirana.
Nesta noite os anjos virulentos que beijam meu corpo me prendem neste sonho em que notas são asas e melodias pinceladas impetuosamente em telas brancas.
As notas me atravessam como névoa a poros. As cores me atravessam. As pinceladas. Os anjos.
Atravessada por lugares, danço etérea com roupas de Dervishe sobre grandes asas de cetim.
Dona aranha dança...
Leopoldina tece...
Eu canto.
Inês.
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Desaparecidos
Entre as fotos de pessoas desaparecidas deste mês que estão nos ônibus da cidade está a foto de um moleque miudinho de 12 anos. E foto de gente desaparecida sempre dá aquele nó na garganta: a certeza de uma morte terrível e a esperança de uma fuga...
E esse moleque me chamou especial atenção porque vários passageiros comentaram que o conheciam - a professora, o vizinho, o colega...
Dizem que era tão fraquinho que "com força se quebrava o bracinho dele".
Dizem que morava com a avó... E que batia nela. Que ia a escola mas desrespeitava todos os professores. E ninguém do governo sabe o que é ser professor da rede pública e viver entre diferentes formas de violência, desrespeitado pelo próprio governo (com um salário 200 vezes menor que o de um parlamentar) e desrespeitado pelos alunos.
Dizem que o pai fora assassinado, e que desde então ele andava pelas ruas armado, afrontando a todos.
Gente assim não dura muito, e certamente o bandidos do bairro deram cabo dele. Não precisa nem dizer que essa história toda tem ligação com o tráfico de drogas.
Vejo a foto dele todo dia dentro do ônibus, e seu olhar de passarinho me acompanha quanto vou pra escola e quando volto pra casa, e eu tenho a certeza de que está morto, com o bracinho quebrado ou não, e que de certa forma toda a sua vidinha de 12 anos hoje seja para a avó a simples lembrança de um pesadelo.
E me pergunto como fazer pras pessoas perceberem logo quantas coisas estão erradas: a lei serve a quem tem o poder e o desejo de manter o status quo. Os legisladores, delegados, juízes, não têm a menor noção de como seu trabalho interfere diretamente na sociedade, e nem sei se compreendem a dimensão e o papel que exercem nessa teia burocrática do Estado. Inclusive acho que tudo é estruturado justamente contando-se com essa desarticulação de responsabilidades, numa coisa grandiosa cujas conexões ninguém consegue enxergar e controlar - e quase sempre quem teria mais condições tem menos interesse, que é o que acontece com a maioria das pessoas em condições econômicas e políticas favoráveis.
Nossa organização estatal quase ninguém sabe exatamente como funciona. Das nossas leis, a grande maioria da população não conhece nem uma ínfima parte, enquanto alguns poucos conseguem sempre maneja-las a seu favor. Mas todos estão submetidos igualmente a esse sistema, e não podem sequer alegar que desconhecem a lei. ("A luta pelo analfabetismo confunde-se, assim, com o fortalecimento do controle dos cidadãos pelo Poder. Pois é preciso que todos saibam ler para que este possa afirmar: ninguém deve alegar que desconhece a lei." Levi-Strauss, Tristes Trópicos, CIA das Letras). A que se presta o Direito mesmo? Justiça?
Inês, sentindo que não conseguirá não mudar os rumos deste blog.
E esse moleque me chamou especial atenção porque vários passageiros comentaram que o conheciam - a professora, o vizinho, o colega...
Dizem que era tão fraquinho que "com força se quebrava o bracinho dele".
Dizem que morava com a avó... E que batia nela. Que ia a escola mas desrespeitava todos os professores. E ninguém do governo sabe o que é ser professor da rede pública e viver entre diferentes formas de violência, desrespeitado pelo próprio governo (com um salário 200 vezes menor que o de um parlamentar) e desrespeitado pelos alunos.
Dizem que o pai fora assassinado, e que desde então ele andava pelas ruas armado, afrontando a todos.
Gente assim não dura muito, e certamente o bandidos do bairro deram cabo dele. Não precisa nem dizer que essa história toda tem ligação com o tráfico de drogas.
Vejo a foto dele todo dia dentro do ônibus, e seu olhar de passarinho me acompanha quanto vou pra escola e quando volto pra casa, e eu tenho a certeza de que está morto, com o bracinho quebrado ou não, e que de certa forma toda a sua vidinha de 12 anos hoje seja para a avó a simples lembrança de um pesadelo.
E me pergunto como fazer pras pessoas perceberem logo quantas coisas estão erradas: a lei serve a quem tem o poder e o desejo de manter o status quo. Os legisladores, delegados, juízes, não têm a menor noção de como seu trabalho interfere diretamente na sociedade, e nem sei se compreendem a dimensão e o papel que exercem nessa teia burocrática do Estado. Inclusive acho que tudo é estruturado justamente contando-se com essa desarticulação de responsabilidades, numa coisa grandiosa cujas conexões ninguém consegue enxergar e controlar - e quase sempre quem teria mais condições tem menos interesse, que é o que acontece com a maioria das pessoas em condições econômicas e políticas favoráveis.
Nossa organização estatal quase ninguém sabe exatamente como funciona. Das nossas leis, a grande maioria da população não conhece nem uma ínfima parte, enquanto alguns poucos conseguem sempre maneja-las a seu favor. Mas todos estão submetidos igualmente a esse sistema, e não podem sequer alegar que desconhecem a lei. ("A luta pelo analfabetismo confunde-se, assim, com o fortalecimento do controle dos cidadãos pelo Poder. Pois é preciso que todos saibam ler para que este possa afirmar: ninguém deve alegar que desconhece a lei." Levi-Strauss, Tristes Trópicos, CIA das Letras). A que se presta o Direito mesmo? Justiça?
Inês, sentindo que não conseguirá não mudar os rumos deste blog.
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Inês de todos os santos...
Uma das coisas que mais faço é viajar. E sozinha (nem sempre por opção, quase sempre por falta de opção).
E a coisa mais louca, mais linda e mais deliciosa é que a cada viagem me surpreendo com o deslumbramento que o mundo provoca em minhas retinas nem tão fatigadas, com a vontade de explodir junto com as coisas que eu vejo, e com a própria sensação de estar verdadeiramente explodindo e de repente vendo tudo mais do alto e ao mesmo tempo mais de dentro.
Dessa vez fui parar numa praia, buscando um pouco de beleza e um bocado de isolamento, pra pensar em questões importantes que minha vida tem me apresentado.
Mas, como sempre, não pensei em nenhuma delas, porque me vi diante de uma perspectiva ainda maior sobre as questões realmente importantes que a vida tem me ofertado, que estão sempre aí, diante do meu nariz, e foi preciso um mergulho bem profundo pra enxerga-las em sua cristalinidade, e pra aceita-las em sua rudeza.
Conheci o Dé, uma figura que me mostrou uma perspectiva totalmente diferente desta que me rodeia e que tantas vezes me incomoda. Que não sabe nada sobre o estruturalismo nem sobre as leis de Newton, mas que escuta o vento e sabe se vai chover. Alguém que olha o mar, e em vez de enxergar simplesmente uma maravilhosa linha do horizonte enxerga uma superfície irregular e inconstante que leva ao mundo subaquático, mais colorido e rico que imaginamos e muito mais vasto que este mundo deslumbrante daqui de fora, com as mesmas montanhas e vales que aqui vemos, só que com seres fantásticos vagando em todas as direções. (E aquele silêncio...)
Os peixes são pássaros com uma permissão maior pra serem pequenos ou grandes.
E é uma prisão voluntária essa nossa de achar que a natureza é um espaço exterior aos seres que a habitam e onde nós, homens, construimos cultura, e de achar um tanto de outras coisas pra separar o que na verdade é uma coisa só: o eu, o outro, o mundo, o bom e o mal, o passado, o presente, o futuro, a alma e o corpo, o deus e o diabo, a verdade e a mentira, o tudo e o nada, o agora e o sempre...
(Alguns homens já sabiam das coisas muito antes de uns europeus começarem a sair invadindo o mundo sem querer muito trocar nada com ele...)
(Mas alguns homens ainda sabem trocar...)
O Dé, na minha busca pela identificação de um arquétipo protetor trazido de terras distantes, me fez perceber a grande resposta nos búzios que amoldavam minhas pegadas o tempo todo sem que eu me desse conta.
(Ó beleza daquilo que me emudece!)
O Dé parece o fruto de um sonho, uma aparição, áspero e doce como fruta madura. E o tempo todo sujo e o tempo todo limpo. Mas limpo de verdade, limpo como um peixe livre, limpo como um santo, limpo como um som, simplesmente limpo, de pele escura e cristalina.
Não sei se lhe ofereci algo em troca. Talvez o silêncio de quem descobre que não sabe nada. Talvez o silêncio de quem faz uma prece sem nomes. Talvez o silêncio de quem escuta o canto de uma sereia. Talvez o silêncio de quem se desconstrói perplexo, e com humildade se deixa espalhar pelas ondas. Talvez o silêncio em gratidão por descobrir um ofício que a cada dia se define mais por, simplesmente, viver.
Dé... Nesses dias de barulhos de ondas (ou de pedras?), de histórias de longe, de sonhos compartilhados e tesouros revelados, de gargalhadas trazidas pela doce fumaça da Bahia, de pequenas sabedorias e grandes incertezas (como terá morrido o turista que se afogou naquela tarde?), nós trocamos uma linda amizade, cristalina e silenciosa como cada gota que preenche esse fantástico universo submerso, pai de tudo o que existe.
(Acho que nos trocamos, irreversivelmente, seguindo o belo curso de tudo o que existiu nos últimos bilhões e bilhões de anos.)
Inês mais-que-nunca Paraíso.
E a coisa mais louca, mais linda e mais deliciosa é que a cada viagem me surpreendo com o deslumbramento que o mundo provoca em minhas retinas nem tão fatigadas, com a vontade de explodir junto com as coisas que eu vejo, e com a própria sensação de estar verdadeiramente explodindo e de repente vendo tudo mais do alto e ao mesmo tempo mais de dentro.
Dessa vez fui parar numa praia, buscando um pouco de beleza e um bocado de isolamento, pra pensar em questões importantes que minha vida tem me apresentado.
Mas, como sempre, não pensei em nenhuma delas, porque me vi diante de uma perspectiva ainda maior sobre as questões realmente importantes que a vida tem me ofertado, que estão sempre aí, diante do meu nariz, e foi preciso um mergulho bem profundo pra enxerga-las em sua cristalinidade, e pra aceita-las em sua rudeza.
Conheci o Dé, uma figura que me mostrou uma perspectiva totalmente diferente desta que me rodeia e que tantas vezes me incomoda. Que não sabe nada sobre o estruturalismo nem sobre as leis de Newton, mas que escuta o vento e sabe se vai chover. Alguém que olha o mar, e em vez de enxergar simplesmente uma maravilhosa linha do horizonte enxerga uma superfície irregular e inconstante que leva ao mundo subaquático, mais colorido e rico que imaginamos e muito mais vasto que este mundo deslumbrante daqui de fora, com as mesmas montanhas e vales que aqui vemos, só que com seres fantásticos vagando em todas as direções. (E aquele silêncio...)
Os peixes são pássaros com uma permissão maior pra serem pequenos ou grandes.
E é uma prisão voluntária essa nossa de achar que a natureza é um espaço exterior aos seres que a habitam e onde nós, homens, construimos cultura, e de achar um tanto de outras coisas pra separar o que na verdade é uma coisa só: o eu, o outro, o mundo, o bom e o mal, o passado, o presente, o futuro, a alma e o corpo, o deus e o diabo, a verdade e a mentira, o tudo e o nada, o agora e o sempre...
(Alguns homens já sabiam das coisas muito antes de uns europeus começarem a sair invadindo o mundo sem querer muito trocar nada com ele...)
(Mas alguns homens ainda sabem trocar...)
O Dé, na minha busca pela identificação de um arquétipo protetor trazido de terras distantes, me fez perceber a grande resposta nos búzios que amoldavam minhas pegadas o tempo todo sem que eu me desse conta.
(Ó beleza daquilo que me emudece!)
O Dé parece o fruto de um sonho, uma aparição, áspero e doce como fruta madura. E o tempo todo sujo e o tempo todo limpo. Mas limpo de verdade, limpo como um peixe livre, limpo como um santo, limpo como um som, simplesmente limpo, de pele escura e cristalina.
Não sei se lhe ofereci algo em troca. Talvez o silêncio de quem descobre que não sabe nada. Talvez o silêncio de quem faz uma prece sem nomes. Talvez o silêncio de quem escuta o canto de uma sereia. Talvez o silêncio de quem se desconstrói perplexo, e com humildade se deixa espalhar pelas ondas. Talvez o silêncio em gratidão por descobrir um ofício que a cada dia se define mais por, simplesmente, viver.
Dé... Nesses dias de barulhos de ondas (ou de pedras?), de histórias de longe, de sonhos compartilhados e tesouros revelados, de gargalhadas trazidas pela doce fumaça da Bahia, de pequenas sabedorias e grandes incertezas (como terá morrido o turista que se afogou naquela tarde?), nós trocamos uma linda amizade, cristalina e silenciosa como cada gota que preenche esse fantástico universo submerso, pai de tudo o que existe.
(Acho que nos trocamos, irreversivelmente, seguindo o belo curso de tudo o que existiu nos últimos bilhões e bilhões de anos.)
Inês mais-que-nunca Paraíso.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Bertolucci e outras coisas nossas. Ou: Elegia.
Nesses mais ou menos dez dias fui
rainha
princesa
bruxa
gata de Schrodinger
vadia
bailarina
boneca
mulher.
Nesses mais ou menos dez dias fui sua.
But I'm Gonna Make You Lonesome When You Go.
Inês.
rainha
princesa
bruxa
gata de Schrodinger
vadia
bailarina
boneca
mulher.
Nesses mais ou menos dez dias fui sua.
But I'm Gonna Make You Lonesome When You Go.
Inês.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
A mulher e o monstro
Não sou uma mulher a procura de um homem (estou farta de orelhas e umbigos e olhares).
Mas sou uma mulher, sem nada de donzela nem de carente (sou só...).
Não tenho muito dinheiro, nem muito menos aqueles braço finos e fortes das minhas heroinas de filme espanhol... Tenho sangue. Tenho raiva (tenho medo).
Tenho também a certeza de que a vida é um sopro
(e de que vinte anos não são mesmo nada).
Tantas vezes olhei pra você procurando alguma coisa que não encontrei. E tantas vezes olhei pra qualquer lugar ou qualquer pessoa procurando você (com as coisas todas que você é, e sem as coisas todas que não encontro quando te olho).
Sou uma mulher e te procuro (com orelhas, umbigo e olhares).
Sou uma mulher, e dentro de mim mora um monstro que te devora.
(Sofro de um disturbio emocional: compulsão passional, com direito a bulimia amorosa.)
Sou uma mulher que te procura quase com fome, e, quando se dá conta disso, meu monstro começa a devorar a si mesmo pra te salvar.
Que maneira de querer, depois de tantos Gabriéis, o mesmo de antes!
Inês.
Mas sou uma mulher, sem nada de donzela nem de carente (sou só...).
Não tenho muito dinheiro, nem muito menos aqueles braço finos e fortes das minhas heroinas de filme espanhol... Tenho sangue. Tenho raiva (tenho medo).
Tenho também a certeza de que a vida é um sopro
(e de que vinte anos não são mesmo nada).
Tantas vezes olhei pra você procurando alguma coisa que não encontrei. E tantas vezes olhei pra qualquer lugar ou qualquer pessoa procurando você (com as coisas todas que você é, e sem as coisas todas que não encontro quando te olho).
Sou uma mulher e te procuro (com orelhas, umbigo e olhares).
Sou uma mulher, e dentro de mim mora um monstro que te devora.
(Sofro de um disturbio emocional: compulsão passional, com direito a bulimia amorosa.)
Sou uma mulher que te procura quase com fome, e, quando se dá conta disso, meu monstro começa a devorar a si mesmo pra te salvar.
Que maneira de querer, depois de tantos Gabriéis, o mesmo de antes!
Inês.
domingo, 23 de agosto de 2009
O triste baile das horas
Desfilam zombeteiras entre um sonho e outro
as horas
ninfas perversas e cheias de caprichos
(as horas são mulheres...)
Riem do quê?
Bailam
encenando desleixo
e fogem sorrateiras
enquanto sorvo desilusões.
Triste e capciosa dança
a das horas.
(tristes horas, só por serem horas.)
Inês.
as horas
ninfas perversas e cheias de caprichos
(as horas são mulheres...)
Riem do quê?
Bailam
encenando desleixo
e fogem sorrateiras
enquanto sorvo desilusões.
Triste e capciosa dança
a das horas.
(tristes horas, só por serem horas.)
Inês.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
A mãe de Inês Paraíso
A mãe de Inês é linda, e ninou Inês cantando Chico Buarque.
A mãe de Inês é uma moça romântica que largou tudo pra se dedicar à família, e que trocou a proteção do pai pela proteção do marido.
A mãe de Inês foi morar fora pra acompanhar o pai de Inês quando os dois se casaram, já que ele tinha que fazer doutorado no estrangeiro, e pegou o diploma por procuração.
A mãe de Inês diz que nunca fumou maconha, teve poucos namorados, daqueles de pegar na mão e pronto, e tinha hora - bem cedo mesmo - pra chegar em casa.
Anos depois, quando Inês já não só comia sozinha mas podia cozinhar algumas coisas sozinha, resolveu voltar à Universidade e somou ao currículo mais uma graduação, e com duas habilitações.
A mãe de Inês é esforçada e organizada - arruma todas as roupas, discos e livros todas as semanas.
A mãe de Inês, assim como o pai de Inês e o irmão de Inês, não almoça sem assistir Video Show ou Estrelas, e não faz nada no horário da novela das oito. Inês não consegue aderir a esse hábito, porque odeia quando o dinheiro lhe diz explicitamente o que vestir, o que comer ou como pensar. (Inês acha a televisão muito agressiva).
A mãe de Inês acredita no American Way of Life, e queria que a filha tivesse tido alguns poucos namorados, daqueles de pegar na mão e pronto, e que lhe contasse todos os acontecimentos banais da sua vida de jovem ajuizada e encaminhada.
Inês também não consegue aderir a este hábito, porque detesta o moralismo cristão de quem sequer frequenta a missa (e de quem frequenta também!), detesta se comportar como os outros gostariam que se comportasse simplesmente pra que ninguém se incomodasse com sua existência e para que fosse aceita como mais uma das tantas moças jovens ajuizadas e encaminhadas que a mãe queria - de um querimento amiúde declarado - que ela fosse.
A mãe de Inês diz que a vida da filha é uma perdição.
E que não é possível uma pessoa viver com menos de 2 mil reais por mês.
(A mãe de Inês recebe menos de 2 mil reais por mês, mas tem um bom marido, e um digno trabalho de professora de colégio.)
Todos os dias a mãe de Inês chora, e diz que se sente muito sozinha porque ninguém da casa gosta de se dedicar à família.
(Os momentos em família são geralmente na frente da televisão)
Inês sente muito pelo fato de a mãe ainda acreditar em ilusões comerciais, por não aceitar as diferenças que vê na filha e nas outras pessoas todas ao redor dela, por ser romântica, sonhadora, tapada, infantil, extremamente carente e egoísta, fazendo-se de vítima o tempo todo por não ter uma família ideal.
Inês sente muito por não ser ideal.
(Mas Inês gosta muito de ser ela mesma, e nunca vai abrir mão disso pra ser simplesmente ideal.)
A mãe de Inês diz que a filha deveria ir a um psicólogo.
Mas a filha está muito bem com suas próprias paranóias, e acha a maioria dos psicólogos incapazes de entender o que sente, simplesmente por também gastarem seu tempo em frente à Rede Globo, por citarem sempre frases prontas de livros de auto-ajuda, por nunca terem visto e lido e estudado o que Inês estudou e por um milhão de outros motivos que Inês tem uma preguiça enorme de escrever agora.
Talvez a mãe de Inês devesse consultar um psicólogo, que lhe dissesse o que ela quer ouvir e a ensinasse a não ser tão criança e tão insatisfeita com o fato de a realidade ser tão diferente das novelas das 8.
A mãe de Inês já quase morreu uma vez, de uma morte muito ruim mesmo (teve um troço na cabeça, pesquisou e descobriu sozinha a doença que os médicos todos uns inúteis não descobriram, fez uma cirurgia e hoje está muito bem, obrigada, relatando a todos os sufocos passados).
O grande problema é que ela pensa que ter sofrido tanto é o que a torna uma heroína.
O pai de Inês vive quase morrendo (muitos enfartes, câncer, etc...).
Inês está familiarizada com hospitais, com chantagem emocional, e com pessoas que pensam que é o sofrimento que faz os heróis. (O Pai de Inês já escreveu 6 livros excelentes).
(Inês não está familiarizada com a morte, isso não. Mas, afinal, será que alguém está, de fato?)
Esses problemas de saúde todos da família acabaram traçando muitas das condições de vida da família de Inês: Inês não pôde interromper os estudos para uma experiência internacional (sem custo algum para quem quer que fosse além da própria Inês) porque tinha que se formar logo, já que há qualquer momento seu provedor material poderia partir desta pra melhor. Esta, aiás, foi uma revelação muito dramática feita à Inês por sua mãe, em forma de chantagem emocional.
(Mas Inês pensa que este não é o melhor jeito de se viver, porque há todo momento um monte de gente nasce e morre, afinal...)
E o pior de tudo é que a mãe de Inês tem pânico da morte, têm pânico de qualquer perda, principalmente do marido, dos filhos e dos outros parentes mais próximos.
A mãe de Inês também tem pânico da distância.
A mãe de Inês tem pânico da solidão.
A mãe de Inês parece que escolheu ser assim tão infantil, e não passa um segundo sem reclamar da vida, sem fazer cobranças, sem pintar as pessoas como se fossem monstros ou sem se fazer de coitada.
(E isso enlouquece Inês!)
A mãe de Inês é uma moça romântica que largou tudo pra se dedicar à família, e que trocou a proteção do pai pela proteção do marido.
A mãe de Inês foi morar fora pra acompanhar o pai de Inês quando os dois se casaram, já que ele tinha que fazer doutorado no estrangeiro, e pegou o diploma por procuração.
A mãe de Inês diz que nunca fumou maconha, teve poucos namorados, daqueles de pegar na mão e pronto, e tinha hora - bem cedo mesmo - pra chegar em casa.
Anos depois, quando Inês já não só comia sozinha mas podia cozinhar algumas coisas sozinha, resolveu voltar à Universidade e somou ao currículo mais uma graduação, e com duas habilitações.
A mãe de Inês é esforçada e organizada - arruma todas as roupas, discos e livros todas as semanas.
A mãe de Inês, assim como o pai de Inês e o irmão de Inês, não almoça sem assistir Video Show ou Estrelas, e não faz nada no horário da novela das oito. Inês não consegue aderir a esse hábito, porque odeia quando o dinheiro lhe diz explicitamente o que vestir, o que comer ou como pensar. (Inês acha a televisão muito agressiva).
A mãe de Inês acredita no American Way of Life, e queria que a filha tivesse tido alguns poucos namorados, daqueles de pegar na mão e pronto, e que lhe contasse todos os acontecimentos banais da sua vida de jovem ajuizada e encaminhada.
Inês também não consegue aderir a este hábito, porque detesta o moralismo cristão de quem sequer frequenta a missa (e de quem frequenta também!), detesta se comportar como os outros gostariam que se comportasse simplesmente pra que ninguém se incomodasse com sua existência e para que fosse aceita como mais uma das tantas moças jovens ajuizadas e encaminhadas que a mãe queria - de um querimento amiúde declarado - que ela fosse.
A mãe de Inês diz que a vida da filha é uma perdição.
E que não é possível uma pessoa viver com menos de 2 mil reais por mês.
(A mãe de Inês recebe menos de 2 mil reais por mês, mas tem um bom marido, e um digno trabalho de professora de colégio.)
Todos os dias a mãe de Inês chora, e diz que se sente muito sozinha porque ninguém da casa gosta de se dedicar à família.
(Os momentos em família são geralmente na frente da televisão)
Inês sente muito pelo fato de a mãe ainda acreditar em ilusões comerciais, por não aceitar as diferenças que vê na filha e nas outras pessoas todas ao redor dela, por ser romântica, sonhadora, tapada, infantil, extremamente carente e egoísta, fazendo-se de vítima o tempo todo por não ter uma família ideal.
Inês sente muito por não ser ideal.
(Mas Inês gosta muito de ser ela mesma, e nunca vai abrir mão disso pra ser simplesmente ideal.)
A mãe de Inês diz que a filha deveria ir a um psicólogo.
Mas a filha está muito bem com suas próprias paranóias, e acha a maioria dos psicólogos incapazes de entender o que sente, simplesmente por também gastarem seu tempo em frente à Rede Globo, por citarem sempre frases prontas de livros de auto-ajuda, por nunca terem visto e lido e estudado o que Inês estudou e por um milhão de outros motivos que Inês tem uma preguiça enorme de escrever agora.
Talvez a mãe de Inês devesse consultar um psicólogo, que lhe dissesse o que ela quer ouvir e a ensinasse a não ser tão criança e tão insatisfeita com o fato de a realidade ser tão diferente das novelas das 8.
A mãe de Inês já quase morreu uma vez, de uma morte muito ruim mesmo (teve um troço na cabeça, pesquisou e descobriu sozinha a doença que os médicos todos uns inúteis não descobriram, fez uma cirurgia e hoje está muito bem, obrigada, relatando a todos os sufocos passados).
O grande problema é que ela pensa que ter sofrido tanto é o que a torna uma heroína.
O pai de Inês vive quase morrendo (muitos enfartes, câncer, etc...).
Inês está familiarizada com hospitais, com chantagem emocional, e com pessoas que pensam que é o sofrimento que faz os heróis. (O Pai de Inês já escreveu 6 livros excelentes).
(Inês não está familiarizada com a morte, isso não. Mas, afinal, será que alguém está, de fato?)
Esses problemas de saúde todos da família acabaram traçando muitas das condições de vida da família de Inês: Inês não pôde interromper os estudos para uma experiência internacional (sem custo algum para quem quer que fosse além da própria Inês) porque tinha que se formar logo, já que há qualquer momento seu provedor material poderia partir desta pra melhor. Esta, aiás, foi uma revelação muito dramática feita à Inês por sua mãe, em forma de chantagem emocional.
(Mas Inês pensa que este não é o melhor jeito de se viver, porque há todo momento um monte de gente nasce e morre, afinal...)
E o pior de tudo é que a mãe de Inês tem pânico da morte, têm pânico de qualquer perda, principalmente do marido, dos filhos e dos outros parentes mais próximos.
A mãe de Inês também tem pânico da distância.
A mãe de Inês tem pânico da solidão.
A mãe de Inês parece que escolheu ser assim tão infantil, e não passa um segundo sem reclamar da vida, sem fazer cobranças, sem pintar as pessoas como se fossem monstros ou sem se fazer de coitada.
(E isso enlouquece Inês!)
domingo, 16 de agosto de 2009
Inês por enquanto descansa...
Enquanto Inês não volta a se expor e escrever, escrevo eu
(que estive com ela quando quase se afogou em lágrimas de saudade nos últimos domingos)
Escrevo que esteve só
Conhecendo lugares e pessoas fabulosas
E só.
Inês se perdeu.
Perdeu-se entre pernas
Entre braços
Entrecoxas.
Entrecortou-se em pedaços de mulher
Espatifou-se em canções de amor demais
Estilhaçou os próprios sonhos com a força autodestrutiva
(quase voluptuosa)
De noites multicoloridas
e manhãs silenciosas.
Inês saiu dizendo que ia comprar pavio pro Lampião
(ô mania de escapulir por entre palavras)
E conheceu viadutos bonitos no Túmulo do Samba.
Inês amou de verdade, nos últimos dias.
Um cineasta cubano
Um ator colombiano
Um percussionista paulistano
Um poeta lusitano
E algumas bailarinas
(Inclusive Leta, a pianista-boneca de quem Inês agora tem uma porção de retratos lindos impublicáveis.)
Inês riu todo o riso que tinha pra rir
(até então).
E agora descansa, sonhando com lençóis em varais, suco de uva fresca, joaninhas em joelhos e bons dias...
(que estive com ela quando quase se afogou em lágrimas de saudade nos últimos domingos)
Escrevo que esteve só
Conhecendo lugares e pessoas fabulosas
E só.
Inês se perdeu.
Perdeu-se entre pernas
Entre braços
Entrecoxas.
Entrecortou-se em pedaços de mulher
Espatifou-se em canções de amor demais
Estilhaçou os próprios sonhos com a força autodestrutiva
(quase voluptuosa)
De noites multicoloridas
e manhãs silenciosas.
Inês saiu dizendo que ia comprar pavio pro Lampião
(ô mania de escapulir por entre palavras)
E conheceu viadutos bonitos no Túmulo do Samba.
Inês amou de verdade, nos últimos dias.
Um cineasta cubano
Um ator colombiano
Um percussionista paulistano
Um poeta lusitano
E algumas bailarinas
(Inclusive Leta, a pianista-boneca de quem Inês agora tem uma porção de retratos lindos impublicáveis.)
Inês riu todo o riso que tinha pra rir
(até então).
E agora descansa, sonhando com lençóis em varais, suco de uva fresca, joaninhas em joelhos e bons dias...
sábado, 4 de julho de 2009
Não aguento mais esta festa
Não consigo não pensar... (no meio desta noite multicolorida)
Todas as coisas que agora existem em breve terão se desintegrado por completo, do limão no meu copo de caipirinha ao sorriso de Maria Elisa. A matéria se transforma, a energia se transfere. É o fim, não como existência, mas como significação desta existência (na minha consciência).
(Meu deus, ela entrou agora no bar, e a presença dela é quase uma moléstia!)
(Mas uma moléstia doce, como jabuticaba, me respondeu Luiz Gabriel.)
(Oh, eles enfim se beijaram! Os dois querem sexo, mas ela também quer amor, e eu nem quero contar a ela que isso de amor não existe.)
(Num assombro repentino me lembro do sorriso de Luciano, que está tocando num bar um quarteirão acima, e esta lembrança é como se fosse uma pequena morte...)
E isso que a gente faz - essa coisa de arte e tal - também não vai existir daqui ha um tempo. (um dia não haverá Tabacaria alguma!)
(Quanto desconforto!)
O samba continua, mas sem fazer sentido. Meu amigo que já me chamou pra dançar duas vezes já me irritou o suficiente pra levar um chute nos dentes.
(Não há náusea, nem enfraquecimento melódico...)
Me levantar, me despedir e sumir na noite. Não espero que ninguém me leve a lugar algum, porque sei como é ser abandonada com as calças na mão.
Ir embora sozinha.
(Inteira, como uma Tabacaria.)
Inês.
Todas as coisas que agora existem em breve terão se desintegrado por completo, do limão no meu copo de caipirinha ao sorriso de Maria Elisa. A matéria se transforma, a energia se transfere. É o fim, não como existência, mas como significação desta existência (na minha consciência).
(Meu deus, ela entrou agora no bar, e a presença dela é quase uma moléstia!)
(Mas uma moléstia doce, como jabuticaba, me respondeu Luiz Gabriel.)
(Oh, eles enfim se beijaram! Os dois querem sexo, mas ela também quer amor, e eu nem quero contar a ela que isso de amor não existe.)
(Num assombro repentino me lembro do sorriso de Luciano, que está tocando num bar um quarteirão acima, e esta lembrança é como se fosse uma pequena morte...)
E isso que a gente faz - essa coisa de arte e tal - também não vai existir daqui ha um tempo. (um dia não haverá Tabacaria alguma!)
(Quanto desconforto!)
O samba continua, mas sem fazer sentido. Meu amigo que já me chamou pra dançar duas vezes já me irritou o suficiente pra levar um chute nos dentes.
(Não há náusea, nem enfraquecimento melódico...)
Me levantar, me despedir e sumir na noite. Não espero que ninguém me leve a lugar algum, porque sei como é ser abandonada com as calças na mão.
Ir embora sozinha.
(Inteira, como uma Tabacaria.)
Inês.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Jazz
São 03:56.
Minhas sensações estão ligeiramente alteradas pelo álcool e pela maconha - oh, não, hoje foi só maconha.
Meu corpo está muito quente, e escorre pelas minhas pernas a lembrança dos últimos instantes de beijos gulosos no carro do Luciano, um calouro de 20 anos que já tinha me beijado e levado em casa numa noite em que eu estava muito bêbada e com sono.
Hoje, no show de jazz em que fomos, me beijou constrangedoramente na frente do professor dele - um cara de 40 anos com quem eu, a propósito, trocava uns beijos nos festivais de jazz em que nos encontrávamos.
Conheci, também, uma morena deslumbrante, estudante de contrabaixo, que se aproximou e fumou maconha com a gente durante o show. Pensei que ela quisesse - e tivesse a coragem - alguma "bagunça" comigo e com Luciano, quando perguntou se a gente era namorado, mas a guria acabou confessando que era apaixonada pelo professor dele, o que lá no fundo, me envaideceu.
Inês.
Minhas sensações estão ligeiramente alteradas pelo álcool e pela maconha - oh, não, hoje foi só maconha.
Meu corpo está muito quente, e escorre pelas minhas pernas a lembrança dos últimos instantes de beijos gulosos no carro do Luciano, um calouro de 20 anos que já tinha me beijado e levado em casa numa noite em que eu estava muito bêbada e com sono.
Hoje, no show de jazz em que fomos, me beijou constrangedoramente na frente do professor dele - um cara de 40 anos com quem eu, a propósito, trocava uns beijos nos festivais de jazz em que nos encontrávamos.
Conheci, também, uma morena deslumbrante, estudante de contrabaixo, que se aproximou e fumou maconha com a gente durante o show. Pensei que ela quisesse - e tivesse a coragem - alguma "bagunça" comigo e com Luciano, quando perguntou se a gente era namorado, mas a guria acabou confessando que era apaixonada pelo professor dele, o que lá no fundo, me envaideceu.
Inês.
terça-feira, 16 de junho de 2009
Olhares Noturnos
Corro meus olhos por outros tantos olhos -
luzes multicoloridas que me secam e desfocam.
(As noites têm sido tão escuras)
Corro meus dedos toda noite por todo o meu corpo,
mas meus dedos não têm sede de corpo.
(E meu corpo tampouco tem sede de dedos)
Corro de dedos e olhos lascivos.
(Olhares noturnos despem sem piedade qualquer um que se vista de espelhos)
Olhares noturnos são também os meus,
que correm pelas ruas, pelos pátios, pelas escadarias
E só encontram repouso na noite escura de dentro de mim.
(Olhares Noturnos de qualquer espécie costumam beber silêncios de qualquer espécie.)
Inês
luzes multicoloridas que me secam e desfocam.
(As noites têm sido tão escuras)
Corro meus dedos toda noite por todo o meu corpo,
mas meus dedos não têm sede de corpo.
(E meu corpo tampouco tem sede de dedos)
Corro de dedos e olhos lascivos.
(Olhares noturnos despem sem piedade qualquer um que se vista de espelhos)
Olhares noturnos são também os meus,
que correm pelas ruas, pelos pátios, pelas escadarias
E só encontram repouso na noite escura de dentro de mim.
(Olhares Noturnos de qualquer espécie costumam beber silêncios de qualquer espécie.)
Inês
domingo, 7 de junho de 2009
Carta a uma pessoa morta
Esses dias eu chorei. Não tinha chorado até então, em respeito ao nosso deboche diante das coisas humanas, que sempre cultivamos como se cumpre um acordo solene (quantas vezes não engoli em seco e procurei o seu olhar me encorajando a buscar a alegria e ignorar esta miserável condição humana!). Mas tenho certeza de que a senhorita também fraquejou algumas vezes escondido, principalmente agora, tão perto do fim e tão longe daquele tempo de delicadezas em que atrelamos nossas vidas uma à outra, num pacto desesperado e silencioso.
Eu chorei de raiva.
(Chorei de pena por saber que nunca mais vamos fuzilar uma Saint Honoré, nem fazer planos de fugir juntas pra França e ir pedindo carona até a Turquia, nem viajar sem destino como precisávamos fazer de vez em quando, nem ver, juntas, tanta gente impressionante sendo engolida pelo mundo.)
Tenho me esforçado pra honrar cada cachoeira que encontramos, cada canto em que dormimos (como a casa da dona Marta, onde comi 16 pastéis... Ou o chão do bar em Rio das Ostras, onde comemos 10 reais de batatinhas a 20 centavos), cada porre inesquecível e que hoje não tenho como dividir.
É esta a dor de se ser só: o mundo e a vida desfilam cristais multicoloridos diante dos nossos olhos a cada viagem, e cada beleza que absorvemos é terrivelmente nossa, e de mais ninguém. (A dor da arte é como eu imagino que seja a dor de um parto.)
Chorei de tristeza porque essa vida é uma merda, vejo muitas pessoas interessantes a cada esquina, mas continuo querendo ficar sozinha.
Chorei porque ninguém tem disposição de caminhar um dia inteiro atrás de uma praia perfeita, comendo pão de queijo de de manhã e tomando cerveja quente.
(Chorei porque esses dias beijei um dos alguns meninos que nós duas pegamos numa quermesse dessas, e não teve a menor graça pra mim.)
Ontem eu esta usando sua camisa preta que ficou no meu armário.
Queria aproveitar esta carta pra dizer que nada nunca me comoveu tanto quanto o fato de a sua mãe ter me dado a chave da sua casa pra eu capotar na sua cama quando estivesse perdida no centro da cidade.
Outro dia o guardador de carros comentou com minha mãe que eu morava no seu prédio, que meu pai tinha morrido, que minha irmã era bailarina, e que eu era cantora de ópera. Dói quando ainda confundem nossos nomes.
Nunca mais eu passei na frente da portaria do seu prédio.
Nunca mais eu vi sua mãe.
E, hoje, nesta noite de silêncio e saudade, eu sinto a terrível certeza de que o tempo não volta.
(Nunca mais voltei à roda de samba)
Esta carta não é pra uma pessoa morta.
É pra uma pessoa que foi engolida pelo mundo, como eu sempre quis ser e agora não sei se continuo querendo.
Inês
Eu chorei de raiva.
(Chorei de pena por saber que nunca mais vamos fuzilar uma Saint Honoré, nem fazer planos de fugir juntas pra França e ir pedindo carona até a Turquia, nem viajar sem destino como precisávamos fazer de vez em quando, nem ver, juntas, tanta gente impressionante sendo engolida pelo mundo.)
Tenho me esforçado pra honrar cada cachoeira que encontramos, cada canto em que dormimos (como a casa da dona Marta, onde comi 16 pastéis... Ou o chão do bar em Rio das Ostras, onde comemos 10 reais de batatinhas a 20 centavos), cada porre inesquecível e que hoje não tenho como dividir.
É esta a dor de se ser só: o mundo e a vida desfilam cristais multicoloridos diante dos nossos olhos a cada viagem, e cada beleza que absorvemos é terrivelmente nossa, e de mais ninguém. (A dor da arte é como eu imagino que seja a dor de um parto.)
Chorei de tristeza porque essa vida é uma merda, vejo muitas pessoas interessantes a cada esquina, mas continuo querendo ficar sozinha.
Chorei porque ninguém tem disposição de caminhar um dia inteiro atrás de uma praia perfeita, comendo pão de queijo de de manhã e tomando cerveja quente.
(Chorei porque esses dias beijei um dos alguns meninos que nós duas pegamos numa quermesse dessas, e não teve a menor graça pra mim.)
Ontem eu esta usando sua camisa preta que ficou no meu armário.
Queria aproveitar esta carta pra dizer que nada nunca me comoveu tanto quanto o fato de a sua mãe ter me dado a chave da sua casa pra eu capotar na sua cama quando estivesse perdida no centro da cidade.
Outro dia o guardador de carros comentou com minha mãe que eu morava no seu prédio, que meu pai tinha morrido, que minha irmã era bailarina, e que eu era cantora de ópera. Dói quando ainda confundem nossos nomes.
Nunca mais eu passei na frente da portaria do seu prédio.
Nunca mais eu vi sua mãe.
E, hoje, nesta noite de silêncio e saudade, eu sinto a terrível certeza de que o tempo não volta.
(Nunca mais voltei à roda de samba)
Esta carta não é pra uma pessoa morta.
É pra uma pessoa que foi engolida pelo mundo, como eu sempre quis ser e agora não sei se continuo querendo.
Inês
sábado, 23 de maio de 2009
Esses dias fui beijada
Primeiro foi num dia depois do samba.
Eu estava num estado que misturava exaustão física e psicológica, aparente embriaguez e preguiça de fazer algo que não fosse sentar, fumar, trocar uma idéia de leve e sair furtivamente quando quisesse.
Só que, por azar, fui cair numa mesa onde nem todos tinham os mesmos planos com relação a mim. Um anjo - meio safado - se aproveitou de minha nobreza, e, quando percebi, todos os olhares que eu trocava no lugar de repente se apagaram.
Carinho é bom, e eu quase não sei dizer não.
Depois foi no dia do grande espetáculo.
O Caio sempre foi meio apaixonado comigo, desde quando nos conhecemos e nos beijamos no meio do cenário do Teatro Municipal. Eu achava que era só safadeza, pq a gente se pegava em lugares proibidos, e pq ele descobriu minha íntima aversão à calcinha. Mas em vez de transformar nossos segredos eróticos em sexo, ele sempre cultuou minhas miudezas como pequenas descobertas sagradas, sempre me conheceu aos poucos, como deve ser quando um ator constrói uma personagem tão forte que se liberta, quando um pintor descobre seu quadro e o concebe, tão estranho, tão diverso à idéia original, tão assustadoramente seu e ao mesmo tempo tão não-seu: verdadeiro, único, vivo.
Foi me descobrindo com a delicadeza com que se descobre o prato especial que se está criando. (Caio talvez tenha me amado como se ama um molho de Framboesa.)
E, depois de anos sem que a gente trepasse de fato, depois de lagriminhas quando eu recusava beijos e carinhos, depois de sorrisos ingênuos que irrompiam à minha aparição, fui perceber que talvez ele estivesse se envolvendo sozinho nalguma história entre a gente, eu simplesmente perdida nas sensações provocadas por seus caixinhos, pela ponta macia dos seus dedos, pela respiração morna e preguiçosa no meu ouvido, e ele buscando alguma permanência inexistente na fundura no meu olhar.
Então eu sumi.
E o tempo, que nunca se faz de rogado, passou impiedosamente.
Outro dia nos reencontramos, e ele me deitou no colo dele e ficou alisando os meus cabelos. Eu deixei que acontecesse, e por instantes cheguei a pensar em chorar.
Subimos crianças as escadarias do teatro, nos metemos no baile cinematográfico de cordas, cortinas e projetores, nos perdendo no escuro daquele espaço gigante e habitado por criaturas cênicas, materiais esquecidos, ferragens, roupas (e sonhos).
Todo o universo de efígies adormecidas do teatro testemunhou nosso beijo desengasgado.
Houve um momento em que um dos técnicos do palco passou caminhando por nós. E talvez ele já soubesse de todas as histórias daquele palco, como um pipoqueiro que sabe de todas as histórias de uma praça.
Essa vai ser nossa última lembrança, Caio lindo... Recendendo a gelo seco, panos velhos, suor, incenso e óleo de engrenagens. Uma lembrança com cheiro de teatro.
Repleta de beleza.
Inteira como um poema.
Inês
Eu estava num estado que misturava exaustão física e psicológica, aparente embriaguez e preguiça de fazer algo que não fosse sentar, fumar, trocar uma idéia de leve e sair furtivamente quando quisesse.
Só que, por azar, fui cair numa mesa onde nem todos tinham os mesmos planos com relação a mim. Um anjo - meio safado - se aproveitou de minha nobreza, e, quando percebi, todos os olhares que eu trocava no lugar de repente se apagaram.
Carinho é bom, e eu quase não sei dizer não.
Depois foi no dia do grande espetáculo.
O Caio sempre foi meio apaixonado comigo, desde quando nos conhecemos e nos beijamos no meio do cenário do Teatro Municipal. Eu achava que era só safadeza, pq a gente se pegava em lugares proibidos, e pq ele descobriu minha íntima aversão à calcinha. Mas em vez de transformar nossos segredos eróticos em sexo, ele sempre cultuou minhas miudezas como pequenas descobertas sagradas, sempre me conheceu aos poucos, como deve ser quando um ator constrói uma personagem tão forte que se liberta, quando um pintor descobre seu quadro e o concebe, tão estranho, tão diverso à idéia original, tão assustadoramente seu e ao mesmo tempo tão não-seu: verdadeiro, único, vivo.
Foi me descobrindo com a delicadeza com que se descobre o prato especial que se está criando. (Caio talvez tenha me amado como se ama um molho de Framboesa.)
E, depois de anos sem que a gente trepasse de fato, depois de lagriminhas quando eu recusava beijos e carinhos, depois de sorrisos ingênuos que irrompiam à minha aparição, fui perceber que talvez ele estivesse se envolvendo sozinho nalguma história entre a gente, eu simplesmente perdida nas sensações provocadas por seus caixinhos, pela ponta macia dos seus dedos, pela respiração morna e preguiçosa no meu ouvido, e ele buscando alguma permanência inexistente na fundura no meu olhar.
Então eu sumi.
E o tempo, que nunca se faz de rogado, passou impiedosamente.
Outro dia nos reencontramos, e ele me deitou no colo dele e ficou alisando os meus cabelos. Eu deixei que acontecesse, e por instantes cheguei a pensar em chorar.
Subimos crianças as escadarias do teatro, nos metemos no baile cinematográfico de cordas, cortinas e projetores, nos perdendo no escuro daquele espaço gigante e habitado por criaturas cênicas, materiais esquecidos, ferragens, roupas (e sonhos).
Todo o universo de efígies adormecidas do teatro testemunhou nosso beijo desengasgado.
Houve um momento em que um dos técnicos do palco passou caminhando por nós. E talvez ele já soubesse de todas as histórias daquele palco, como um pipoqueiro que sabe de todas as histórias de uma praça.
Essa vai ser nossa última lembrança, Caio lindo... Recendendo a gelo seco, panos velhos, suor, incenso e óleo de engrenagens. Uma lembrança com cheiro de teatro.
Repleta de beleza.
Inteira como um poema.
Inês
domingo, 17 de maio de 2009
Perto dos tambores e das estrelas
Os botecos de ontem estavam exatamente iguais aos botecos de qualquer outro dia, e então um inquietamento súbito me uniu a meus companheiros e nos levou ao lugar mais alto - e frio - da cidade, com nossos instrumentos suados de ensaio.
Nosso único pesar era não ter maconha.
E não é que, lá, encontramos um grupo conhecido, criaturas da noite que estavam fazendo som desde cedo? (Inclusive com um beck que veio dum pé de 2 metros regado com muito carinho por um deles...)
Caixa de Folia, Didgeridoo e Djambês nos levaram a um transe sagrado coletivo, e por muitos instantes a existência inteira se integrava no ritmo puro de uma delícia irrecusável... E ao mesmo tempo um silêncio quase universal, o som dos tambores ascendendo a um plano superior, e nós, todos, submergindo mansamente naquela atmosfera de amor e sonhos que nascia dentro de cada um, e, num estalo, explodia em estrelas, que nos espiavam envaidecidas.
Naquela noite fria, acho que todos buscávamos os sons da floresta. A maioria, que tinha acabado de vender umas 10 horas de vida pra um patrão totalmente desconhecido, cantava ali seu canto de liberdade, e chorava de dor e saudade pela morte das águas, das plantas e dos bichos.
Em algum momento, o frio impiedoso foi mandando, uma a uma, aquelas criaturas lindas embora. Eu, que fiquei entre os últimos, fui trazida a casa por um príncipe de olhos brilhantes, que, como um anjo de asas veludosas, me trouxe no sono uma paz e uma pureza que muito me faziam falta.
Inês
Nosso único pesar era não ter maconha.
E não é que, lá, encontramos um grupo conhecido, criaturas da noite que estavam fazendo som desde cedo? (Inclusive com um beck que veio dum pé de 2 metros regado com muito carinho por um deles...)
Caixa de Folia, Didgeridoo e Djambês nos levaram a um transe sagrado coletivo, e por muitos instantes a existência inteira se integrava no ritmo puro de uma delícia irrecusável... E ao mesmo tempo um silêncio quase universal, o som dos tambores ascendendo a um plano superior, e nós, todos, submergindo mansamente naquela atmosfera de amor e sonhos que nascia dentro de cada um, e, num estalo, explodia em estrelas, que nos espiavam envaidecidas.
Naquela noite fria, acho que todos buscávamos os sons da floresta. A maioria, que tinha acabado de vender umas 10 horas de vida pra um patrão totalmente desconhecido, cantava ali seu canto de liberdade, e chorava de dor e saudade pela morte das águas, das plantas e dos bichos.
Em algum momento, o frio impiedoso foi mandando, uma a uma, aquelas criaturas lindas embora. Eu, que fiquei entre os últimos, fui trazida a casa por um príncipe de olhos brilhantes, que, como um anjo de asas veludosas, me trouxe no sono uma paz e uma pureza que muito me faziam falta.
Inês
quarta-feira, 13 de maio de 2009
À minha boneca de piche
Em casas abertas e noites de festa os seus olhos sem-querer-querendo engoliram os meus. Eu me vi por diversos instantes espalhados, inteira e do tamanho de um bacilo, caminhando serelepe pelas linhazinhas da sua Íris, sentindo de perto a luz que sempre emanou da sua criancice risonha e voluptuosa. Chocolates, fotos, vinhos e carinhos são coisas que pertencem somente a nós duas neste mundo. E Paris e Tuffault foram feitos simplesmente para o perambular dos nossos sonhos.
Quis tantas vezes ter o seu cheiro, e ele agora é inevitavelmente meu também. Nossos beijos, nossos descuidos maliciosos, nosso silêncio inquietante e tão pleno de não-saberes, nosso dessexo... Tudo aquilo rasgou a minha pele inteira (desde o início...)
Dormir chorando é um conforto, acordar chorando é um desparaíso melancólico – e eu sei: a tristeza pode acabar com uma pessoa...
Ver seu sangue coagulado na sua pele tão de moça foi de repente saber que a verdade existe. A verdade existe e escorre pelas nossas ilusões, tornando tudo um borrão ocre sem brilho, meu amor...
Te vi a boneca de piche das nossas historinhas, e seu olhar me agrediu tão provocadoramente, e a sua forma física obscena sugou meus punhos e dedos do pé tão violentamente pra dentro de você.
Hoje eu sou o monstro de piche, o grande monstro imóvel, pegajoso e revirado ocupando o que antes era seu lugar...
E você, pra onde foi que não te enxergo? Não consigo me virar... Acho que te perdi.
Por favor, se encontre, meu amor. Que eu não posso mais te ajudar.
Inês
Quis tantas vezes ter o seu cheiro, e ele agora é inevitavelmente meu também. Nossos beijos, nossos descuidos maliciosos, nosso silêncio inquietante e tão pleno de não-saberes, nosso dessexo... Tudo aquilo rasgou a minha pele inteira (desde o início...)
Dormir chorando é um conforto, acordar chorando é um desparaíso melancólico – e eu sei: a tristeza pode acabar com uma pessoa...
Ver seu sangue coagulado na sua pele tão de moça foi de repente saber que a verdade existe. A verdade existe e escorre pelas nossas ilusões, tornando tudo um borrão ocre sem brilho, meu amor...
Te vi a boneca de piche das nossas historinhas, e seu olhar me agrediu tão provocadoramente, e a sua forma física obscena sugou meus punhos e dedos do pé tão violentamente pra dentro de você.
Hoje eu sou o monstro de piche, o grande monstro imóvel, pegajoso e revirado ocupando o que antes era seu lugar...
E você, pra onde foi que não te enxergo? Não consigo me virar... Acho que te perdi.
Por favor, se encontre, meu amor. Que eu não posso mais te ajudar.
Inês
sábado, 9 de maio de 2009
Buraco
Ganhei carona pra um lugar interessante da cidade, quando a aula terminou. E, afinal, era sexta feira, e eu também tinha o direito de me perder.
Percorri as ruas do bairro em que estava, provando cervejas em mesas acolhedoras, dando minhas canjinhas modestas e bolinhas em baseados de vários formatos, tamanhos e temperos...
Delícia divina ouvir um pouco de tantas histórias! São contos-de-fadas acontecidos em terras e tempos distantes: o outro. Que se abre como um girassol diante de mim, me faz me sentir ainda criança descobrindo o mundo.
O encontro me ilumina, a troca me alimenta, o sonho me motiva, e o álcool talvez entre na lista somente pra me entorpecer, mesmo...
Saber tantos mundos diferentes, neste só, consola meus dias, aquieta meus medos - e desperta tantos outros - e sacia meus desejos.
Caminhei sozinha de um bar a outro, e como queria que fossem cidades! Constelações...
Em algum instante da noite, o buraco que existe dentro de mim começou a crescer e a consumir meus passos. A acomodação política, a alienação medíocre e o acúmulo de sangue nas partes baixas, que tantas vezes entopem os botecos, e que me alcançam por gargalhadas, discursos e erotismos alheios, tornavam minha existência insustentável. Ai, o gosto amargo das limitações humanas...
E me peguei, de repente, procurando, a cada esquina, o olhar virulento de Luiz Gabriel, minha atual projeção de alguém que eu gostaria de levar e ser levada pra lugares como o Jalapão, ou a pracinha atrás da minha casa, e com quem não consigo estabelecer nenhum vínculo prático, nenhum diálogo coerente, nenhum telefonema, nenhuma resposta segura, nada que supere a frustração de nosso contato diário tão quente e tão frio. (Diante dele só resta alguma parte de mim, aquela parte monstruosa que não domino, e que devora todos os meus outros pedaços como um animal estúpido.)
Cada encontro com Luiz Gabriel me corrói, e na hora não quero mais sequer existir.
Mas com o tempo isso passa...
Eu sei.
Em noites como esta, olhares noturnos de qualquer espécie me causam náusea.
Ah... Preciso embora.
Inês.
Percorri as ruas do bairro em que estava, provando cervejas em mesas acolhedoras, dando minhas canjinhas modestas e bolinhas em baseados de vários formatos, tamanhos e temperos...
Delícia divina ouvir um pouco de tantas histórias! São contos-de-fadas acontecidos em terras e tempos distantes: o outro. Que se abre como um girassol diante de mim, me faz me sentir ainda criança descobrindo o mundo.
O encontro me ilumina, a troca me alimenta, o sonho me motiva, e o álcool talvez entre na lista somente pra me entorpecer, mesmo...
Saber tantos mundos diferentes, neste só, consola meus dias, aquieta meus medos - e desperta tantos outros - e sacia meus desejos.
Caminhei sozinha de um bar a outro, e como queria que fossem cidades! Constelações...
Em algum instante da noite, o buraco que existe dentro de mim começou a crescer e a consumir meus passos. A acomodação política, a alienação medíocre e o acúmulo de sangue nas partes baixas, que tantas vezes entopem os botecos, e que me alcançam por gargalhadas, discursos e erotismos alheios, tornavam minha existência insustentável. Ai, o gosto amargo das limitações humanas...
E me peguei, de repente, procurando, a cada esquina, o olhar virulento de Luiz Gabriel, minha atual projeção de alguém que eu gostaria de levar e ser levada pra lugares como o Jalapão, ou a pracinha atrás da minha casa, e com quem não consigo estabelecer nenhum vínculo prático, nenhum diálogo coerente, nenhum telefonema, nenhuma resposta segura, nada que supere a frustração de nosso contato diário tão quente e tão frio. (Diante dele só resta alguma parte de mim, aquela parte monstruosa que não domino, e que devora todos os meus outros pedaços como um animal estúpido.)
Cada encontro com Luiz Gabriel me corrói, e na hora não quero mais sequer existir.
Mas com o tempo isso passa...
Eu sei.
Em noites como esta, olhares noturnos de qualquer espécie me causam náusea.
Ah... Preciso embora.
Inês.
quarta-feira, 6 de maio de 2009
Náusea
Foi muito café e muito cigarro. Muito salgado engordurado do centro da cidade. Muitas cobranças da minha mãe sobre exames, médicos, posturas e condutas, etc etc... Haxixe e maconha. Pessoas se atropelando nas ruas e enchendo o mundo de lixo e de odores desagradáveis. Calor. Fumaça. Remédios. Ônibus cospindo poluições sonoras diretamente dentro do meu corpo. E, sobretudo (acho), o mal estar causado pelo erotismo que surgiu de instantes trocados com Luiz Gabriel, o colega poeta e genial que me sufoca com tanta crueza, exigindo tão manipuladoramente que eu seja outra pessoa que não eu mesma- de propósito?
Acho que comi demais e preciso vomitar.
Depois, quem sabe, me restaurar com chá de hortelã ou suco de abacaxi.
Não tenho disturbios alimentares. Tirando a compulsão, que se alastra por todos os meus atos e consumos.
Inês.
Acho que comi demais e preciso vomitar.
Depois, quem sabe, me restaurar com chá de hortelã ou suco de abacaxi.
Não tenho disturbios alimentares. Tirando a compulsão, que se alastra por todos os meus atos e consumos.
Inês.
segunda-feira, 4 de maio de 2009
Passos fêmeos
Ontem toquei com meu grupo de samba.
Sou flautista.
(O que, a propósito, minha família até aceitaria, a princípio, desde que a Filarmônica estivesse em meus planos mais próximos... Mas a cada dia é o som dos loucos e dos botecos que mais me domina e aprisiona, o que gera um pronunciado e amargo DESGOSTO nos meus pais. Sorry...). Depois que o bar fechou e todos do grupo foram embora, saí andando em direção a um outro bar que tem um chorinho até mais tarde (todos colegas meus), e onde tantos músicos de tantos sons diferentes se reúnem para os últimos suspiros antes que a segunda-feira se descortine por completo.
E como sempre me sentei em muitas mesas e tive muitos copos de cerveja.
Ouvi algumas vezes que eu estava linda e que minha boca parecia um não-sei-o-quê vermelho e bonito, mas por olhares que não me emocionaram muito.
Fumei perto da janela, olhando a noite lambendo as ruas e árvores e carros molhados de sereno (ou suor?).
E, como sempre, deslizei pela escada sem nada deixar de mim lá dentro, exceto um livro que acabara de ganhar de presente e esqueci nalguma cadeira - tristeza! -, e um pouco do meu perfume de frutas e especiarias (meu único segredo sexual mais secreto que meus cílios postiços).
Longos momentos depois, em meu quarto (é impressionante como NUNCA repeti nem uma vez sequer algum método de voltar pra casa, onde quer que eu me tenha jogado), me embrulhei nas cobertas até que a manhã entrasse pela janela (ou minha mãe entrasse pela porta, se lamentando que essa vida de música tem sido minha desgraça - oh!).
...
Oh!
Inês
Sou flautista.
(O que, a propósito, minha família até aceitaria, a princípio, desde que a Filarmônica estivesse em meus planos mais próximos... Mas a cada dia é o som dos loucos e dos botecos que mais me domina e aprisiona, o que gera um pronunciado e amargo DESGOSTO nos meus pais. Sorry...). Depois que o bar fechou e todos do grupo foram embora, saí andando em direção a um outro bar que tem um chorinho até mais tarde (todos colegas meus), e onde tantos músicos de tantos sons diferentes se reúnem para os últimos suspiros antes que a segunda-feira se descortine por completo.
E como sempre me sentei em muitas mesas e tive muitos copos de cerveja.
Ouvi algumas vezes que eu estava linda e que minha boca parecia um não-sei-o-quê vermelho e bonito, mas por olhares que não me emocionaram muito.
Fumei perto da janela, olhando a noite lambendo as ruas e árvores e carros molhados de sereno (ou suor?).
E, como sempre, deslizei pela escada sem nada deixar de mim lá dentro, exceto um livro que acabara de ganhar de presente e esqueci nalguma cadeira - tristeza! -, e um pouco do meu perfume de frutas e especiarias (meu único segredo sexual mais secreto que meus cílios postiços).
Longos momentos depois, em meu quarto (é impressionante como NUNCA repeti nem uma vez sequer algum método de voltar pra casa, onde quer que eu me tenha jogado), me embrulhei nas cobertas até que a manhã entrasse pela janela (ou minha mãe entrasse pela porta, se lamentando que essa vida de música tem sido minha desgraça - oh!).
...
Oh!
Inês
domingo, 3 de maio de 2009
Só isso.
Caminhei pelas ruas durante a noite toda.
Acompanhada somente por um grande gato negro de olhos brilhantes, que seguia silencioso meus passos, lambendo delicadamente as estrelas que encontrava nalgumas poças d'água que havia no caminho.
Bebi vinho...
Fumei.
Encontrei pessoas igualmente errantes. Me assustei com gargalhadas que irrompiam na noite e flertei muitas vezes com janelas abertas.
Abracei velhas árvores, que me acolhiam com a ternura de ruas com cheiro de infâncias antigas.
Por fim, adormeci na escadaria do prédio de uma amiga que já não morava lá. E despertei com a fome da manhã que se descortinava pelos poros do antigo edifício.
Chegando a casa, cumprimentei meu pai, que lia cafeínicamente seu jornal, e me perguntou como havia sido a noite de filmes na casa de uma colega.
Ótima.
Tomo agora o banho dos justos, e lavo minha pele e meus cabelos, impregnados de noite e de sonhos.
Inês.
Acompanhada somente por um grande gato negro de olhos brilhantes, que seguia silencioso meus passos, lambendo delicadamente as estrelas que encontrava nalgumas poças d'água que havia no caminho.
Bebi vinho...
Fumei.
Encontrei pessoas igualmente errantes. Me assustei com gargalhadas que irrompiam na noite e flertei muitas vezes com janelas abertas.
Abracei velhas árvores, que me acolhiam com a ternura de ruas com cheiro de infâncias antigas.
Por fim, adormeci na escadaria do prédio de uma amiga que já não morava lá. E despertei com a fome da manhã que se descortinava pelos poros do antigo edifício.
Chegando a casa, cumprimentei meu pai, que lia cafeínicamente seu jornal, e me perguntou como havia sido a noite de filmes na casa de uma colega.
Ótima.
Tomo agora o banho dos justos, e lavo minha pele e meus cabelos, impregnados de noite e de sonhos.
Inês.
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