quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

notícias recentes ou assembleia geral sobre o amor

procura-se a poesia das coisas que não tem nomes fixos. de modo que se possa dizer eu te amo e permitir qualquer desvio semântico possível entre os envolvidos. de modo que querer alguém bem fundo seja algo aceitável, considerando-se os equívocos que rondam o querer.
se eu digo, por exemplo, a palavra "branca", que ela possa se desdobrar naquilo que me conecta com a espuma, e que esse desvio silencioso faça-me perder a propriedade da branquitude e transforme minha voz em quase-pura entrega.
não seja mais proibido sentir e compartilhar o que se sente mesmo que em forma de tropeços de reflexos de ecos de escuridão de nada.
e que o medo se transforme na piada da vez, e que a valentia seja o vento que carrega nossas mais preciosas sementes.
a melancolia se direcione pras últimas coisas das quais não se conhece ainda o fim.
e tudo aquilo que se transforma por essência seja exposto sem piedade.
o perdão tomando o lugar do medo, a liberdade tomando o lugar do desejo, e, como única possibilidade e última esperança, o eu se dissolva naquela fumaça que no fundo sempre foi.
estamos aqui reunidos até quando e pra quê?

inês.

sábado, 1 de outubro de 2016

louca. bruxa. livre. lua nova

a lua renasce e a cada ciclo renascemos juntas. o tempo vai passando e aquela oscilação terrível entre o medo de ser só e o desejo de liberdade começa a se transformar em entendimento.
aquela pressão exigente e tóxica pra ser sugada pela lógica da propriedade e da famiglia vai se tornando uma porção de lamentos sonoros e visuais cada vez mais distantes e sem sentido.
e só me interessa o que pode voar. a matéria, também, mas etérea, também... coisa de fogo terra pedra água e vento.
o tempo vai passando e a encanação com a castração alheia começa a parecer uma bobagem ingênua. não me importa ser chamada de louca, nem mesmo a ponto de sentir pena. louco é quem está doente, quem se vende em troca de uma proteção frágil e falsa. um dia o vazio pega, e aí?
de olhos e ouvidos abertos pro mundo vou tecendo meu espaço energético. o resto vai ficando tão previsível e pequeno!
vejo tantas mulheres lindas e fortes perdidas em relações nas quais as pequenas belezas vão sendo engolidas pela carência e insegurança e se transformando em desrespeito, e começo a me esforçar pra perceber esse caminho o quanto antes e zelar pelo compromisso que tenho com meu próprio crescimento e minha liberdade. cada um está num processo nessa vida, e é preciso ter cuidado pra não confundir o maravilhoso gesto de se envolver no processo de outra pessoa por amor, e o ato de sair carregando frustrações por aí. isso dá cor nas costas.
mas o começo é por dentro, se tocando e se conhecendo. fazendo massagem nos próprios cabelos, olhando o fundo da garganta no espelho, passando a língua nos dentes, escutando o intestino, sentindo as escamas do caminho do útero, cheirando o próprio sangue de olhos fechados, apertando os peitos, usando o tato interno pra sentir os ares que entram e saem.
depois correr... deixar que os hormônios explodam e o coração venha bater na boca e em cada capilar sobre a pele... fazer latejar os músculos. cultivar sensações secretas, varrer a casa em silêncio pela manhã. depois voar... esquecer algumas coisas e perdoar tudo o que for possível. o amor só existe no perdão.
e que as palavras tenham seu poder reconhecido com mais ousadia e com mais cautela e generosidade. e que os sonhos não sejam imagens vãs. e que as folhas e as conchas sejam ouvidas. e que alguns pensamentos não sejam sufocados mas passem como nuvens. e que o corpo seja uma fonte, e que o desejo seja um fluxo, e que o encontro seja fluvial.


inês.



sábado, 17 de setembro de 2016

so rio

dentro de mim tem um bosque,

dentro de mim uma chama,

dentro de mim solidão.

dentro do bosque um rio,

dentro do rio uma luz
(só quem sabe fechar os olhos sabe disso).

eis que um príncipe de olhos fechados
(e cheiro doce no corpo todo)
ouviu o barulho desse rio lá de fora.

se o príncipe mergulhar ele morre
(coisa de encantamento?)
então ele fecha os olhos e escuta.

qualquer dia o príncipe vai seguir seu caminho
(vai deixar os seus passos no mato)

eu não vou seguir seu rastro.
vou ficar sentindo seu cheiro impregnado nas folhas.
até que o muro que cerca meu bosque se esburaque e se desfaça
e as aves que aqui cantam voem todas pra longe.

inês. e a lua vendo isso tudo.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

olhos essenciais de rosas e gerânios

deu-me a vida a graça de apreciar a arte dos encontros, sentí-los de tudo quanto foi forma e profundeza, até que a textura cromática entre mim e as outras pessoas começou a se estender de tal forma descontroladamente maravilhosa que muitas vezes um sorriso lá de mil novecentos e não sei quando me aparece agora num nascer de sol neste fim de semana que passou naquela cidadezinha da infância que graças a deus tornei a ver (e onde tomei a bênção de dona dalva, no mesmo dia em que ganhei um novo amor trazido pela lua dourada, que provavelmente ainda verei algumas poucas vezes na vida se tiver sorte, mas que também já tocou magicamente outros amores meus de outros carnavais, com os quais já troquei e continuarei trocando segredos mágicos pelo correr do tempo sabe se lá por onde). isso pra dizer de amores previamente livres. aqueles quase nunca eróticos, que passam por mim nesta vida em formato de professor, de quitandeira sabida, de alguém que viajou ao meu lado e compartilhou comigo alguns silêncios olhando pra um rio que só a gente sabe qual foi. nossasinhora. de saber que nunca mais vai se ver mas mesmo assim apertar a mão bem forte e falar só um podicrê bem sincero, de quem viu o passarinho verde, de quem tá indo cada um prum lado mas se ligou na viagem errada (quem viu a solidão bem dentro do fundo do olho um do outro, não só a solidão triste, mas a triste também, e deixou refletir um pro outro a sombra natural do medo e a luz deslumbrante da coragem).
aí, é claro, teve os encontros que passaram pelo corpo todo. teve de tudo. tirando a parte das ideias muito tortas, das inseguranças muito imaturas, que fazem parte do aprender a ser a gente e do constante se ajustar ao inconstante mundo... encontrar alguém que mexe com muitas partes de dentro e de fora da gente, de antes de agora e de depois, e que faz a gente ficar matutando sobre onde é que está o quê, e ao mesmo tempo se deixando enlouquecer um pouco, ai, isso é bom. principalmente quando a coisa não tem nome, ou quando tem muitos nomes, quando muda o tempo todo acompanhada de risada e de desejo. enigma sem pé nem cabeça, sem começo nem fim, ele se propõe meio tronxo, incompleto e ao mesmo tempo inteiro e eterno, frágil e disperso e ao mesmo tempo infinito. é um cisco, um sopro, um diamante. trivial e único, brutalmente livre e enigmaticamente sensível.
não sei de muita coisa. tem gente que não perde tempo. experimenta encontros incríveis com pessoas interessantes. em superlugares. bons papos. boa comida. mas sem apego! o mundo é grande e há muito o que conhecer. muitos lugares. muitas histórias. muitas pessoas. muitas culturas. muitas mulheres, muitos homens, muitos mistérios. eu espero que essas pessoas sejam felizes e realizadas assim.
eu aqui... desde o princípio... tenho ido devagarzim. quando sento pra prosear, é sem hora pra levantar. eu me entrego, e o milagre acontece. entregar-se de verdade mesmo é o contrário de se prender, é se libertar (e quem sabe ir até mais longe? não sei de muita coisa). ainda me sirvo do primeiro amor. e do segundo... e assim tem sido... e ó: num tenho do que reclamar não. o coração só cresce e aquece. porque se um grão de areia é amor então é ele que vai valer a minha vida inteira.

inês.
té logo, vai na frente que eu vou indo :)

quinta-feira, 12 de maio de 2016

flui

cá estou, cá fora, cá longe. de repente. sem fuga nem esconderijo.
alguma saudade - é verdade. convertida na mais pura ternura de quem não quer voltar nunca mais pra ficar.
a vida é assim mesmo, eu quero mesmo é isso aqui (ir).
(enfim, fui embora)
nada mais preso na garganta, mas muitos corações fora do peito.

sobre as ruas e janelas que cuidaram dos meus passos...
o respeito me liberte.

sobre o antes pouco, medíocre, pesado de inveja, o mau olhado, o controle, a sabotagem, o sem futuro...
a disciplina me liberte.

sobre aquele passado cercada de machos do passado, aqueles que tinham pavor da liberdade feminina, aqueles que não suportavam olhar uma mulher frente à frente...
o perdão me liberte.

sobre os amorzinhos, aqueles que de quem eu nunca mais vou sentir o cheiro...
o amor nos liberte.

sobre o novo, o grande e agora pra sempre sem fim...
a coragem me liberte.

braços abertos, fitando o atlântico (o passado e o futuro)
meu corpo na babilônia e no mato, na estrada, nas ondas, no céu...
viagem de cipó, passaporte, papo-reto...
novos amores, agora mais forte pra dizer "vem-que-tem" ou "vai-com-deus"
novos sinais, armadilhas, delícias, belezas e bênçãos...
a fé me libertou.

inês (eu tou ficando é mais velha, né mais boba não).

terça-feira, 10 de maio de 2016

tempo

lua cheia

sim, guiar o coração. por que não?
amores lentos, amores brutos... mentiras-olhares (silêncios-entregas). casos travados, casos esquecidos, guardados, amores metidos. casos perdidos.
promessas
apegos
desejos
perdão (liberdade)
- perfume-boemia-paumole -
- tesão-teoria-peloscheiros -
(o peito cheio)
novela. pé no cu. volta atrás. o revés, o urso-serpente, o trago, o engasgo, o cuspe o gozo o riso o sono
falo
grelo
carne-e-osso (chôro e flor)
a vela ainda acesa, o útero e a fome
a lua, a rua, o amor (soprando de novo).


lua nova

entre uma história mais bonita que a de Robson Cruzoé
olhos pesados e vazios, filha e pai (ou o contrário)
o futuro na beira do mar, eu e eu, dois navios em batalha colidindo
(ai, naufrágio novo, haja nunca-maises)
...
e trabalho mansinho
o olho tangente, menos fogo, mais veludo
(o medo olhando pra tudo, pedra e peixe, filho e mãe ou o contrário)
caminhada crua, vôo solto, a despedida, o broto de amor.
...
e lembrar de um lance aí, que chegou de outras vidas e não se sustentou
(dor e dor)
e pensar num troço aqui que me lambe a criança - filho ou eu?
(coisa de pele)

não sou eu quem me navega: forte à deriva
(dizer não a quem me suga: isso foi ser-forte)
vai-com-deus

a vida serenou, e nem sei mais se quem vai me matar é a beleza.
a mãe dos pecado capital é a vaidade
(e o maior feitiço ainda é o perdão)

flor, fruto, vôo livre, o tempo
(vai-com-deus).

inês.

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