quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

o amor é o fim do mundo

eu sempre sonho com ele, desde criança. vem pelo mar, quase sempre, mas às vezes explode descontroladamente em forma de lava, e nesse caso de nada adianta fugir pras montanhas.
mas essa noite foi diferente. pela primeira vez eu sabia que ele viria, mas não fugi nem tentei resistir.
eu quis ver o fim do mundo por dentro.
não havia muito som, ao contrário do que eu imaginava. aos poucos o mundo era um filme de nitrato que ia se queimando em microcamadas, e eu de olhos bem abertos enxerguei tudo através da lenta combustão. eu vi através do filme até que tudo virasse o nada, como se mergulhasse no mar de olhos abertos e depois fechasse continuando a mergulhar.
um sentimento inconfundível, mas novo. e ao mesmo tempo eu sabia que ele me rondou durante a vida inteira, como se esperando minha disposição pra ouvir o silêncio.
o extremo do desapego e o extremo do mergulho.
e tinha algo de feminino no fim do mundo, um feminino que vinha de dentro de mim. e de certa forma eu senti que o mundo me via de maneira recíproca, queimando como um filme em silêncio, na pequenez do meu olhar e na profundeza da minha entrega.

inês.

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