quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Inês de todos os santos...


Uma das coisas que mais faço é viajar. E sozinha (nem sempre por opção, quase sempre por falta de opção).

E a coisa mais louca, mais linda e mais deliciosa é que a cada viagem me surpreendo com o deslumbramento que o mundo provoca em minhas retinas nem tão fatigadas, com a vontade de explodir junto com as coisas que eu vejo, e com a própria sensação de estar verdadeiramente explodindo e de repente vendo tudo mais do alto e ao mesmo tempo mais de dentro.

Dessa vez fui parar numa praia, buscando um pouco de beleza e um bocado de isolamento, pra pensar em questões importantes que minha vida tem me apresentado.

Mas, como sempre, não pensei em nenhuma delas, porque me vi diante de uma perspectiva ainda maior sobre as questões realmente importantes que a vida tem me ofertado, que estão sempre aí, diante do meu nariz, e foi preciso um mergulho bem profundo pra enxerga-las em sua cristalinidade, e pra aceita-las em sua rudeza.

Conheci o Dé, uma figura que me mostrou uma perspectiva totalmente diferente desta que me rodeia e que tantas vezes me incomoda. Que não sabe nada sobre o estruturalismo nem sobre as leis de Newton, mas que escuta o vento e sabe se vai chover. Alguém que olha o mar, e em vez de enxergar simplesmente uma maravilhosa linha do horizonte enxerga uma superfície irregular e inconstante que leva ao mundo subaquático, mais colorido e rico que imaginamos e muito mais vasto que este mundo deslumbrante daqui de fora, com as mesmas montanhas e vales que aqui vemos, só que com seres fantásticos vagando em todas as direções. (E aquele silêncio...)

Os peixes são pássaros com uma permissão maior pra serem pequenos ou grandes.

E é uma prisão voluntária essa nossa de achar que a natureza é um espaço exterior aos seres que a habitam e onde nós, homens, construimos cultura, e de achar um tanto de outras coisas pra separar o que na verdade é uma coisa só: o eu, o outro, o mundo, o bom e o mal, o passado, o presente, o futuro, a alma e o corpo, o deus e o diabo, a verdade e a mentira, o tudo e o nada, o agora e o sempre...

(Alguns homens já sabiam das coisas muito antes de uns europeus começarem a sair invadindo o mundo sem querer muito trocar nada com ele...)

(Mas alguns homens ainda sabem trocar...)

O Dé, na minha busca pela identificação de um arquétipo protetor trazido de terras distantes, me fez perceber a grande resposta nos búzios que amoldavam minhas pegadas o tempo todo sem que eu me desse conta.

(Ó beleza daquilo que me emudece!)

O Dé parece o fruto de um sonho, uma aparição, áspero e doce como fruta madura. E o tempo todo sujo e o tempo todo limpo. Mas limpo de verdade, limpo como um peixe livre, limpo como um santo, limpo como um som, simplesmente limpo, de pele escura e cristalina.

Não sei se lhe ofereci algo em troca. Talvez o silêncio de quem descobre que não sabe nada. Talvez o silêncio de quem faz uma prece sem nomes. Talvez o silêncio de quem escuta o canto de uma sereia. Talvez o silêncio de quem se desconstrói perplexo, e com humildade se deixa espalhar pelas ondas. Talvez o silêncio em gratidão por descobrir um ofício que a cada dia se define mais por, simplesmente, viver.

Dé... Nesses dias de barulhos de ondas (ou de pedras?), de histórias de longe, de sonhos compartilhados e tesouros revelados, de gargalhadas trazidas pela doce fumaça da Bahia, de pequenas sabedorias e grandes incertezas (como terá morrido o turista que se afogou naquela tarde?), nós trocamos uma linda amizade, cristalina e silenciosa como cada gota que preenche esse fantástico universo submerso, pai de tudo o que existe.

(Acho que nos trocamos, irreversivelmente, seguindo o belo curso de tudo o que existiu nos últimos bilhões e bilhões de anos.)

Inês mais-que-nunca Paraíso.

22 comentários:

  1. Adorei compartilhar e refletir!
    Quantas vezes (na maioria delas), estamos equivocados.....Nossa vaidade e prepotência nos cegam.
    Lindo quando os olhos realmente vêem, e o coração sente!
    Beijo carinhoso
    Bea

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  2. este texto meu deu vontade de ficar e silêncio. belo!!!

    obrigado pela visita em meu blog e respondendo ao seu comentário digo:

    quem disse isso foi o cara que escolheu um paulistano da penha para ser seu companheiro de samba por 10 anos. a parceria mais longa de vinicius de moraes e a parceria que ele mais fez samba

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  3. Também tenho vivido intenso encontro com o mar.
    Cadinho RoCo

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  4. Queria saber escrever como você, daí nao precisava me escondewr atras dos desenhos.

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  5. Inês,obrigada pela sua visita.
    Breve,se Deus quiser voltarei,para ler mais.
    Beijo.
    isa.

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  6. ...gostei mtº deste teu texto. mtº mesmo.

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  7. Veio de repente no meu blog. Deixou um recado bem belo.. E devo dizer que o seu é do mesmo jeito.

    Às vezes a gente precisa de um mar diferente do nosso pra poder refletir. E essa vida que sempre nos trás surpresas, hem?!

    Um beijo.
    =]

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  8. Oi Inês!

    Parece coisa de Dorival Caymmi. O mar, as pedras o vento. Muito belo.

    Adorei a visita.

    Apareça sempre.

    Boa sorte nas viagens...bjs!

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  9. Inês

    Que prazer em te encontrar.

    A vida é um grande acontecimento.
    Vivamos! Vamos nos alegrar.

    Amo a natureza e tenho paixão pelo mar.

    Um forte abraço.
    Até mais.

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  10. Oh, Notável e Extraordinária Amiga:
    O seu Universo pessoal, social e humano são uma dádiva dos céus. Que brilhantismo puro de uma dimensão fabulosa no campo literário. Que maravilhoso sentir e ser. Fiquei deliciado pela seu ímpar e magistral forma artística muiro bela da sua escrita poderosa e soberba. De deleite fantástico.
    Um Dé fascinante. Penso que é Dé, não é...?
    Olhe, fiquei silencioso sem saber o que expressar, acredite...?
    Os meus parabéns sinceros.
    Registo a sua lição de vida no meu Diário da mesma que trago sempre no bolso do lado esquerdo do coração.
    MUITO OBRIGADO pela sua amizade.
    É uma honra receber visitas como a sua.
    Com o maior respeito, estima e consideração.
    Deslumbrado por tanto encanto e genialidade...

    pena

    Bem-Haja, Gigante escritora amiga.
    Adorei!

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  11. Claro, desculpe esquecer-me:
    Beijinhos amigos puros.

    pena

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  12. A descoberta do sentido da VIda....tb eu ando procura da minha...mas, a VIda é como uma Rosa é bela...pena ter tantos espinhos...

    Maravilhosa esta sua leitura das coisas simples da Vida...por vezes nós é que a complicamos

    Voltarei

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  13. Inês
    (Gosto do teu nome, bem potuguês::)

    Obrigada por me seguires e o que li do teu post achei maravilhoso...um convite para eu voltar.
    Um beijo...do outro lado do mar!!
    Graça

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  14. que bom que gostou, Inês, vou passar sempre por aqui também ! Um beijo

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  15. Maravilhoso o teu texto, tal como tu sinto paixão pelo mar...
    Voltarei
    Bjs

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  16. Obrigada por sua gentil visita e por palavras tão carinhosas a cerca de meu trabalho.
    Voltarei sempre que a minha conexão me permitir abrir as páginas (rs).
    Hoje eu trago uma história de infãncia, a de um baobá lá da ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro. Garanto que vai gostar muito.
    FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER... deseja um bom fibal de semana.
    Saudações Florestais !

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  17. Retribuindo visita.
    Viajar é gostoso e necessário!

    Beijos

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  18. Conheceu minha terra?
    Como assim?
    Conte-me!

    Continuemos...

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  19. INÊS, você simplesmente viu a vida verdadeira, a vida da experiência, a vida do vencer e matar um leão a cada dia, a vida que não tem intelectualismos para esconder nossas dúvidas e, por isto, desfaz-se delas, descobrindo a verdade,escavando com as mãos, por isso elas ficam cheias de calosidades.

    São as marcas do saber!

    Os homens modernos, globalizados, engravatados, competitivos e suas mulheres liberadas, emancipadas,executivas, precisam realmente, encontrarem o seu Dé, vez por outra.

    Então veriam que a vida e tão maior e melhor que um salário, que criar um filho e tão ou mais importante que ser promovido, ou que ganhar o sorriso da companheira é impagável, apesar de ter enfrentando a cara feia dos gerentes da suas empresas, uns comendo os outros!

    A minha praia INÊS é o humor, e nutro uma profunda admiração por pessoas como você que conseguem bordar e tecer textos desta natureza.

    Eu só consigo falar sério com humor, mas este Dé, apesar de nunca tê-lo visto, sempre fez parte da minha ideologia de vida e da minha maneira de ver o próximo.

    Por exigências profisionais, sou obrigado a ler muito, mas quanto mais eu leio, mais eu descubro a beleza da filosofia de vida que meu Dé me passou, pois meu Dé, INÊS foi :MEU PAI!

    Um abração INÊS, e seu texto é belíssimo!

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  20. Você entre o real e o abtrato.
    Passando e recifrando signos...

    Continuemos, Inês...

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  21. Inês,

    Gostei muito deste teu deslumbrar... também eu ainda me deslumbro com o que me rodeia.

    Obrigada pela visita ao meu "palco".

    Beijos meus

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