sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A mulher e o monstro

Não sou uma mulher a procura de um homem (estou farta de orelhas e umbigos e olhares).
Mas sou uma mulher, sem nada de donzela nem de carente (sou só...).
Não tenho muito dinheiro, nem muito menos aqueles braço finos e fortes das minhas heroinas de filme espanhol... Tenho sangue. Tenho raiva (tenho medo).
Tenho também a certeza de que a vida é um sopro
(e de que vinte anos não são mesmo nada).
Tantas vezes olhei pra você procurando alguma coisa que não encontrei. E tantas vezes olhei pra qualquer lugar ou qualquer pessoa procurando você (com as coisas todas que você é, e sem as coisas todas que não encontro quando te olho).
Sou uma mulher e te procuro (com orelhas, umbigo e olhares).
Sou uma mulher, e dentro de mim mora um monstro que te devora.
(Sofro de um disturbio emocional: compulsão passional, com direito a bulimia amorosa.)
Sou uma mulher que te procura quase com fome, e, quando se dá conta disso, meu monstro começa a devorar a si mesmo pra te salvar.

Que maneira de querer, depois de tantos Gabriéis, o mesmo de antes!

Inês.

domingo, 23 de agosto de 2009

O triste baile das horas

Desfilam zombeteiras entre um sonho e outro
as horas
ninfas perversas e cheias de caprichos
(as horas são mulheres...)

Riem do quê?

Bailam
encenando desleixo
e fogem sorrateiras
enquanto sorvo desilusões.

Triste e capciosa dança
a das horas.
(tristes horas, só por serem horas.)

Inês.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

A mãe de Inês Paraíso

A mãe de Inês é linda, e ninou Inês cantando Chico Buarque.
A mãe de Inês é uma moça romântica que largou tudo pra se dedicar à família, e que trocou a proteção do pai pela proteção do marido.
A mãe de Inês foi morar fora pra acompanhar o pai de Inês quando os dois se casaram, já que ele tinha que fazer doutorado no estrangeiro, e pegou o diploma por procuração.
A mãe de Inês diz que nunca fumou maconha, teve poucos namorados, daqueles de pegar na mão e pronto, e tinha hora - bem cedo mesmo - pra chegar em casa.
Anos depois, quando Inês já não só comia sozinha mas podia cozinhar algumas coisas sozinha, resolveu voltar à Universidade e somou ao currículo mais uma graduação, e com duas habilitações.
A mãe de Inês é esforçada e organizada - arruma todas as roupas, discos e livros todas as semanas.
A mãe de Inês, assim como o pai de Inês e o irmão de Inês, não almoça sem assistir Video Show ou Estrelas, e não faz nada no horário da novela das oito. Inês não consegue aderir a esse hábito, porque odeia quando o dinheiro lhe diz explicitamente o que vestir, o que comer ou como pensar. (Inês acha a televisão muito agressiva).
A mãe de Inês acredita no American Way of Life, e queria que a filha tivesse tido alguns poucos namorados, daqueles de pegar na mão e pronto, e que lhe contasse todos os acontecimentos banais da sua vida de jovem ajuizada e encaminhada.
Inês também não consegue aderir a este hábito, porque detesta o moralismo cristão de quem sequer frequenta a missa (e de quem frequenta também!), detesta se comportar como os outros gostariam que se comportasse simplesmente pra que ninguém se incomodasse com sua existência e para que fosse aceita como mais uma das tantas moças jovens ajuizadas e encaminhadas que a mãe queria - de um querimento amiúde declarado - que ela fosse.
A mãe de Inês diz que a vida da filha é uma perdição.
E que não é possível uma pessoa viver com menos de 2 mil reais por mês.
(A mãe de Inês recebe menos de 2 mil reais por mês, mas tem um bom marido, e um digno trabalho de professora de colégio.)
Todos os dias a mãe de Inês chora, e diz que se sente muito sozinha porque ninguém da casa gosta de se dedicar à família.
(Os momentos em família são geralmente na frente da televisão)
Inês sente muito pelo fato de a mãe ainda acreditar em ilusões comerciais, por não aceitar as diferenças que vê na filha e nas outras pessoas todas ao redor dela, por ser romântica, sonhadora, tapada, infantil, extremamente carente e egoísta, fazendo-se de vítima o tempo todo por não ter uma família ideal.
Inês sente muito por não ser ideal.
(Mas Inês gosta muito de ser ela mesma, e nunca vai abrir mão disso pra ser simplesmente ideal.)
A mãe de Inês diz que a filha deveria ir a um psicólogo.
Mas a filha está muito bem com suas próprias paranóias, e acha a maioria dos psicólogos incapazes de entender o que sente, simplesmente por também gastarem seu tempo em frente à Rede Globo, por citarem sempre frases prontas de livros de auto-ajuda, por nunca terem visto e lido e estudado o que Inês estudou e por um milhão de outros motivos que Inês tem uma preguiça enorme de escrever agora.
Talvez a mãe de Inês devesse consultar um psicólogo, que lhe dissesse o que ela quer ouvir e a ensinasse a não ser tão criança e tão insatisfeita com o fato de a realidade ser tão diferente das novelas das 8.
A mãe de Inês já quase morreu uma vez, de uma morte muito ruim mesmo (teve um troço na cabeça, pesquisou e descobriu sozinha a doença que os médicos todos uns inúteis não descobriram, fez uma cirurgia e hoje está muito bem, obrigada, relatando a todos os sufocos passados).
O grande problema é que ela pensa que ter sofrido tanto é o que a torna uma heroína.
O pai de Inês vive quase morrendo (muitos enfartes, câncer, etc...).
Inês está familiarizada com hospitais, com chantagem emocional, e com pessoas que pensam que é o sofrimento que faz os heróis. (O Pai de Inês já escreveu 6 livros excelentes).
(Inês não está familiarizada com a morte, isso não. Mas, afinal, será que alguém está, de fato?)
Esses problemas de saúde todos da família acabaram traçando muitas das condições de vida da família de Inês: Inês não pôde interromper os estudos para uma experiência internacional (sem custo algum para quem quer que fosse além da própria Inês) porque tinha que se formar logo, já que há qualquer momento seu provedor material poderia partir desta pra melhor. Esta, aiás, foi uma revelação muito dramática feita à Inês por sua mãe, em forma de chantagem emocional.
(Mas Inês pensa que este não é o melhor jeito de se viver, porque há todo momento um monte de gente nasce e morre, afinal...)
E o pior de tudo é que a mãe de Inês tem pânico da morte, têm pânico de qualquer perda, principalmente do marido, dos filhos e dos outros parentes mais próximos.
A mãe de Inês também tem pânico da distância.
A mãe de Inês tem pânico da solidão.
A mãe de Inês parece que escolheu ser assim tão infantil, e não passa um segundo sem reclamar da vida, sem fazer cobranças, sem pintar as pessoas como se fossem monstros ou sem se fazer de coitada.
(E isso enlouquece Inês!)

domingo, 16 de agosto de 2009

Inês por enquanto descansa...

Enquanto Inês não volta a se expor e escrever, escrevo eu
(que estive com ela quando quase se afogou em lágrimas de saudade nos últimos domingos)

Escrevo que esteve só
Conhecendo lugares e pessoas fabulosas
E só.

Inês se perdeu.
Perdeu-se entre pernas
Entre braços
Entrecoxas.
Entrecortou-se em pedaços de mulher
Espatifou-se em canções de amor demais
Estilhaçou os próprios sonhos com a força autodestrutiva
(quase voluptuosa)
De noites multicoloridas
e manhãs silenciosas.

Inês saiu dizendo que ia comprar pavio pro Lampião
(ô mania de escapulir por entre palavras)
E conheceu viadutos bonitos no Túmulo do Samba.

Inês amou de verdade, nos últimos dias.
Um cineasta cubano
Um ator colombiano
Um percussionista paulistano
Um poeta lusitano
E algumas bailarinas
(Inclusive Leta, a pianista-boneca de quem Inês agora tem uma porção de retratos lindos impublicáveis.)

Inês riu todo o riso que tinha pra rir
(até então).

E agora descansa, sonhando com lençóis em varais, suco de uva fresca, joaninhas em joelhos e bons dias...

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