sexta-feira, 20 de setembro de 2013

ser

ouço um vento, aqui comigo. vento interno, violento, que foge pelos meus poros, pela minha boca, pelos meus olhos, e me carrega praquela distante paz diante do revolto encontro entre o mar e o céu, encontro azul entre o profundo e o infinito, o cristalino e o escondido, que me alenta e me transforma no grão de areia que sou. lá, minhas pretensões, meus juízos, minhas desilusões, se transformam em vozes miúdas, em impotentes dores surdas de quereres triviais: trago em mim um algo a mais, que sossega minha fuga inglória, que me traz de volta pra dentro, pra explodir em ondas de vento. e quem sabe ainda haja tempo pras ligeiras alegrias, pras certezas fugidias brincarem no meu ori. eu sei que estou aqui, mas minha mente está lá longe, buscando uma paz que se esconde nos mais doces manguezais. sou um rio que corre pro mar, uma estrela ensaiando um luar, mas caindo pra sempre num nada, pra compor tudo o mais que existe: eu sei, a existência é triste, mas a eternidade é linda, é como esta noite, que finda, numa explosão de pássaros-tons. e é pra isso que existe o samba, pra lembrar que é o tempo quem manda nos caminhos do nosso ser. a poesia é tudo o que resta - pra quem chora, sorri ou contesta - e a sábia cadência do mundo, a batida de cada momento, transformam e vida em verso, convertem desejos em vento, invertem todo o universo!

inês.

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