quarta-feira, 4 de setembro de 2013

não volte

você disse que viria (e disse que queria), e então comecei a preparar meu melhor tempero. escolhi meu vestido imaginando como seria visto, tocado, talvez até tirado pelo senhor. limpei as janelas, isso no primeiro dia. mas você não veio, e eu me decepcionei, e comi sozinha todo o jantar.
no dia seguinte o mesmo... outro vestido, outro tempero... um sinal de desejo, e então escureceu e veio o vazio... não entendi o que havia se passado.
depois, por vários dias, a mesma espera, outros temperos, outros vestidos, outros discos, os cachorros latindo pra qualquer um que se aproximasse da porta, como se também esperançosos pelo seu retorno. comecei a entender, comecei a chorar. escrevi. perguntei se era abandono, mas o senhor disse que não, que era só seu jeito.
mas tudo, por melhor que seja, envelhece, resseca, murcha, foge.
era só dizer que não se dava bem com o tempero. era só dizer que não queria saber de vestido, de música, de conversa, de nada que eu tinha pra oferecer, a não ser aquela pequena parte do meu corpo da qual o senhor sentiu falta quando não mais pôde desfrutar.
eu senti que não merecia mais esperar pelo senhor, nem guardar meu carinho, minha atenção, meus cuidados, meu tempero, meu tempo. mas chorei ainda muito até entender que não havia nada de errado comigo, chorei às vezes com desespero, mas quase sempre com uma tristeza tão doída, que por dias as janelas sequer foram abertas, sequer coloquei vestido algum, e comi e bebi sem vontade, entre soluços e silêncio.
o senhor já está na idade de saber que pode destruir o coração de alguém com tanto descuidado. por favor, não volte.

inês.

Um comentário:

  1. Mas voltei....rssss
    Verdade, se for pra destruir,
    melhor nem aparecer.

    Beijo

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