sábado, 9 de maio de 2009

Buraco

Ganhei carona pra um lugar interessante da cidade, quando a aula terminou. E, afinal, era sexta feira, e eu também tinha o direito de me perder.
Percorri as ruas do bairro em que estava, provando cervejas em mesas acolhedoras, dando minhas canjinhas modestas e bolinhas em baseados de vários formatos, tamanhos e temperos...
Delícia divina ouvir um pouco de tantas histórias! São contos-de-fadas acontecidos em terras e tempos distantes: o outro. Que se abre como um girassol diante de mim, me faz me sentir ainda criança descobrindo o mundo.
O encontro me ilumina, a troca me alimenta, o sonho me motiva, e o álcool talvez entre na lista somente pra me entorpecer, mesmo...
Saber tantos mundos diferentes, neste só, consola meus dias, aquieta meus medos - e desperta tantos outros - e sacia meus desejos.
Caminhei sozinha de um bar a outro, e como queria que fossem cidades! Constelações...

Em algum instante da noite, o buraco que existe dentro de mim começou a crescer e a consumir meus passos. A acomodação política, a alienação medíocre e o acúmulo de sangue nas partes baixas, que tantas vezes entopem os botecos, e que me alcançam por gargalhadas, discursos e erotismos alheios, tornavam minha existência insustentável. Ai, o gosto amargo das limitações humanas...
E me peguei, de repente, procurando, a cada esquina, o olhar virulento de Luiz Gabriel, minha atual projeção de alguém que eu gostaria de levar e ser levada pra lugares como o Jalapão, ou a pracinha atrás da minha casa, e com quem não consigo estabelecer nenhum vínculo prático, nenhum diálogo coerente, nenhum telefonema, nenhuma resposta segura, nada que supere a frustração de nosso contato diário tão quente e tão frio. (Diante dele só resta alguma parte de mim, aquela parte monstruosa que não domino, e que devora todos os meus outros pedaços como um animal estúpido.)
Cada encontro com Luiz Gabriel me corrói, e na hora não quero mais sequer existir.
Mas com o tempo isso passa...
Eu sei.

Em noites como esta, olhares noturnos de qualquer espécie me causam náusea.

Ah... Preciso embora.

Inês.

6 comentários:

  1. Olhares de escritores sempre me perseguem... Ou eu os persigo. Ainda não encontrei o de Jorge Luís, mas me deixaste com vontade de ir ao encontro dele.
    Não se vá!

    Beijos e borboleteios

    ResponderExcluir
  2. Estou embasbacado com o blog, muito bem escrito!!! é claro que seguirei também para acompanhar os seus "delírios".
    Beijos e quem sabe nos encontramos em alguma esquina qualquer dividindo um copo de cerveja...

    ResponderExcluir
  3. sofremos do mesmo mal então, a dita larica incontrolável após alguns tragos "inocentes"...

    ResponderExcluir
  4. Inês, no meu blog, no lado direito dele, depois do Letras que amo, há um espaço assim: Amig@s que voam comigo. É o recurso para ser seguida.
    ^^

    Beijos e borboleteios

    ResponderExcluir
  5. Em algum futuro distante, num daqueles sonhos premonitórios retirados dos filmes de ficção-científica ou do olhar perdido dos astrônomos, o homem terá ganhado as estrelas. Como quem zarpava para mares desconhecidos, atravessará as galáxias, por entre caminhos preenchidos de vazio, onde só andam a luz e os cometas. Conhecerá nebulosas, anãs-vermelhas, luzes furiosas que devastam dimensões e buracos-negros de desolação.

    O homem ganhará as estrelas e chegará em algum planetinha deserto, do outro lado do universo, onde o olho não consegue nem mesmo imaginar a distância. Parsecs, anos-luz, warps. Em algum outro lugar da imensidão, existirá um planetinha deserto, de areia amarelada e mares tão verdes quanto incolores.

    Lá, nesse lugar distante, o homem pousará sua nave, centenas e centenas de toneladas de aço, reatores de plasma vomitando resíduos capazes de empurrá-lo entre imensos espaços de desolação, chegarão como viajantes antigos, cansados como os aventureiros das caravelas de séculos, talvez milênios antes, e descerão as rampas e tocarão a areia quente com seus pés.

    Com o olhar andaluz de um conquistador, o primeiro homem esticará então seu imenso pano, desfraldará a bandeira quadriculada da sua dominação, e a esticará sobre a areia. Besuntará seu corpo óleo e se esticará ao sol - que são dois, aproveitando para pegar um bronzeado, enquanto a mulher traz as crianças e o cunhado o freezer com as cervejas.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Comentário que diz nada de nada, né? Mas é que você falou em constelações...

      Excluir

Minha lista de blogs