Ganhei carona pra um lugar interessante da cidade, quando a aula terminou. E, afinal, era sexta feira, e eu também tinha o direito de me perder.
Percorri as ruas do bairro em que estava, provando cervejas em mesas acolhedoras, dando minhas canjinhas modestas e bolinhas em baseados de vários formatos, tamanhos e temperos...
Delícia divina ouvir um pouco de tantas histórias! São contos-de-fadas acontecidos em terras e tempos distantes: o outro. Que se abre como um girassol diante de mim, me faz me sentir ainda criança descobrindo o mundo.
O encontro me ilumina, a troca me alimenta, o sonho me motiva, e o álcool talvez entre na lista somente pra me entorpecer, mesmo...
Saber tantos mundos diferentes, neste só, consola meus dias, aquieta meus medos - e desperta tantos outros - e sacia meus desejos.
Caminhei sozinha de um bar a outro, e como queria que fossem cidades! Constelações...
Em algum instante da noite, o buraco que existe dentro de mim começou a crescer e a consumir meus passos. A acomodação política, a alienação medíocre e o acúmulo de sangue nas partes baixas, que tantas vezes entopem os botecos, e que me alcançam por gargalhadas, discursos e erotismos alheios, tornavam minha existência insustentável. Ai, o gosto amargo das limitações humanas...
E me peguei, de repente, procurando, a cada esquina, o olhar virulento de Luiz Gabriel, minha atual projeção de alguém que eu gostaria de levar e ser levada pra lugares como o Jalapão, ou a pracinha atrás da minha casa, e com quem não consigo estabelecer nenhum vínculo prático, nenhum diálogo coerente, nenhum telefonema, nenhuma resposta segura, nada que supere a frustração de nosso contato diário tão quente e tão frio. (Diante dele só resta alguma parte de mim, aquela parte monstruosa que não domino, e que devora todos os meus outros pedaços como um animal estúpido.)
Cada encontro com Luiz Gabriel me corrói, e na hora não quero mais sequer existir.
Mas com o tempo isso passa...
Eu sei.
Em noites como esta, olhares noturnos de qualquer espécie me causam náusea.
Ah... Preciso embora.
Inês.
Fonte do Pinheiro
Há 10 meses
Olhares de escritores sempre me perseguem... Ou eu os persigo. Ainda não encontrei o de Jorge Luís, mas me deixaste com vontade de ir ao encontro dele.
ResponderExcluirNão se vá!
Beijos e borboleteios
Estou embasbacado com o blog, muito bem escrito!!! é claro que seguirei também para acompanhar os seus "delírios".
ResponderExcluirBeijos e quem sabe nos encontramos em alguma esquina qualquer dividindo um copo de cerveja...
sofremos do mesmo mal então, a dita larica incontrolável após alguns tragos "inocentes"...
ResponderExcluirInês, no meu blog, no lado direito dele, depois do Letras que amo, há um espaço assim: Amig@s que voam comigo. É o recurso para ser seguida.
ResponderExcluir^^
Beijos e borboleteios
Em algum futuro distante, num daqueles sonhos premonitórios retirados dos filmes de ficção-científica ou do olhar perdido dos astrônomos, o homem terá ganhado as estrelas. Como quem zarpava para mares desconhecidos, atravessará as galáxias, por entre caminhos preenchidos de vazio, onde só andam a luz e os cometas. Conhecerá nebulosas, anãs-vermelhas, luzes furiosas que devastam dimensões e buracos-negros de desolação.
ResponderExcluirO homem ganhará as estrelas e chegará em algum planetinha deserto, do outro lado do universo, onde o olho não consegue nem mesmo imaginar a distância. Parsecs, anos-luz, warps. Em algum outro lugar da imensidão, existirá um planetinha deserto, de areia amarelada e mares tão verdes quanto incolores.
Lá, nesse lugar distante, o homem pousará sua nave, centenas e centenas de toneladas de aço, reatores de plasma vomitando resíduos capazes de empurrá-lo entre imensos espaços de desolação, chegarão como viajantes antigos, cansados como os aventureiros das caravelas de séculos, talvez milênios antes, e descerão as rampas e tocarão a areia quente com seus pés.
Com o olhar andaluz de um conquistador, o primeiro homem esticará então seu imenso pano, desfraldará a bandeira quadriculada da sua dominação, e a esticará sobre a areia. Besuntará seu corpo óleo e se esticará ao sol - que são dois, aproveitando para pegar um bronzeado, enquanto a mulher traz as crianças e o cunhado o freezer com as cervejas.
Comentário que diz nada de nada, né? Mas é que você falou em constelações...
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