terça-feira, 3 de junho de 2014

sangue

só faltava mesmo que, enfim, descesse tudo, e agora já não falta nada. tem uns ciclos lindos rolando no meu corpo, e que se estendem às minhas histórias, aos eus que tenho, que sou, que hei. homem não sabe não.
acaba amor, começa amor, acaba amor, sai da casa, casa nova, casa outra, sem casa, mais amor e algum dinheiro, depois contas e mais contas, o vermelho, o medo, o susto ruim o susto bom, um cachorro...
e a terra girando dentro do meu corpo, cada parte se entendendo e se desentendendo entre si enquanto vivo, nascentes de luz e escuridão que me movimentam e me recolhem, tudo isso enquanto penso que penso pra existir e ser mulher.
eu me angustio, mas meu corpo parece que sabe de tudo.
agora o grande balão de remoimentos que eu enchia sem controle aqui dentro esvaziou, parece que choveu, me sinto uma terra revirada e úmida, fértil, farta de sementes, sais, restos, desejo, fé...
só que não voltei a ser o que eu era, acho que isso nunca mais. o mundo roda e caminha, e as coisas não voltam ao seu lugar. uma coisa de que eu gostava muito morreu, e libertou-me de um vício que não me deixava perceber que eu queria lá na frente, mas não sentia a delícia do eterno preparo.
tenho um certo tesão inédito em um pouco de sangue, algum arranhão, uma mordida, de repente tatuagem. já marquei, a primeira, e já a adoro, na minha pele.

inês.

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