quinta-feira, 19 de junho de 2014

irmãos

uma melancolia me abraça logo de manhã, como se eu tivesse sonhado a noite toda com uma ausência, com todas as ausências que de repente me doem, e a saudade então parece querer tornar-se um fel.
aí eu desisto do dia, recolho-me entre cartas, nos buracos intermináveis e enganosos, leio meia poesia do pessoa, e não consigo fazer mais nada. como se ninguém nunca mais pudesse me amar como nos amamos, e como se a partir de agora viver fosse um eterno lamento pelo passar dos anos, pela distância daquela alegria explosiva que tanto compartilhamos.
mas eis que alguém me sopra no ouvido que a lua está linda, que a noite existe tão viva quanto antes, tão noite quanto longe, e que cada segundo é uma nova explosão deliciosa de futuro e de amor.
saio, como antes... a ver.
e a saudade e a ausência transformam-se de amargas em doces lembranças à medida que vou percorrendo aqueles lugares que antes habitamos juntos de mil formas. como estará o zé? não tenho notícias.
e... tão logo se dá o primeiro encontro que a noite me reserva, abre-se o mundo, e meu amor transborda. daqui pra ali... uma cerveja... acolá, alguns abraços... e eis-me numa festa linda, com gente linda, num lindo quintal ouvindo lindos poemas e lindas canções... tudo novo, como se a juventude dos trinta-quarenta-cinquenta anos artísticos-políticos me esmagasse, ou antes me abraçasse como irradiação poderosa e linda de amor, de beleza, de sonho, de vitalidade e consciência.
eis aqui, mundo, um bocado de coragem.
eis aqui, tempo, um pouco de amor e de fé.

eis aqui, inês, um punhado dos seus lindos, novos e velhos amigos, que vão aparecendo no quintal no transcorrer de uma festa repleta de amor e de luz. e, quem diria... samba.

inês, corajosa, porque entre irmãos.

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