sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

a deuses

viajo porque sofro, e, porque viajo, sofro.
viajo pra não esquecer
(e viajo pra não lembrar).
viajo em nuvens, cidades, países,
viajo em ondas.
viajo em pássaros, em pernas, tempeiros,
e a cada despedida carrego todas as outras despedidas:
as nervosas, as tristes, as desesperadas,
as desejosas, as pra-nunca-mais.
carrego a despedida dos parceiros do rio, correndo qual meninos
ao lado do ônibus
explodindo adeuses que alimentaram as janelas,
atravessaram os silêncios seguintes, as paisagens.
carrego a despedida dos índios, o choro daquelas mulheres,
as lágrimas da minha tia, os eu-te-amos engasgados,
a troca de bênçãos e colares, carrego todos comigo
(carrego agora este parto bruto, nesta manhã comum).
carrego, além de tudo, a falta
falta que sinto dos mares, das casas, das chapadas.
e um peso-doído de abraços, planos, sons-risadas (qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar).
não viajo sem bagagem.
viajar é carregar saudades e olhares, coisas do céu.
viajar é partir, é querer que o tempo corra.
viajar é sofrer o correr desabalado do tempo
(bons momentos, passem lentos).

- viajo, e sei que o tempo voa assim como eu. parto, e a vida revela-se rara. sofro, e desejo partir ainda mais -
porque viajar é (se)(re)partir, e partir é sofrer, é um tipo de explodir, um jeito de ser inteiro
- é sofrer encontros, que já são em si violentas sementes de ausência. a violência do tudo e do nada, de apenas ser.

inês, numa manhã de adeus na bahia.

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