viajo porque sofro, e, porque viajo, sofro.
viajo pra não esquecer
(e viajo pra não lembrar).
viajo em nuvens, cidades, países,
viajo em ondas.
viajo em pássaros, em pernas, tempeiros,
e a cada despedida carrego todas as outras despedidas:
as nervosas, as tristes, as desesperadas,
as desejosas, as pra-nunca-mais.
carrego a despedida dos parceiros do rio, correndo qual meninos
ao lado do ônibus
explodindo adeuses que alimentaram as janelas,
atravessaram os silêncios seguintes, as paisagens.
carrego a despedida dos índios, o choro daquelas mulheres,
as lágrimas da minha tia, os eu-te-amos engasgados,
a troca de bênçãos e colares, carrego todos comigo
(carrego agora este parto bruto, nesta manhã comum).
carrego, além de tudo, a falta
falta que sinto dos mares, das casas, das chapadas.
e um peso-doído de abraços, planos, sons-risadas (qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar).
não viajo sem bagagem.
viajar é carregar saudades e olhares, coisas do céu.
viajar é partir, é querer que o tempo corra.
viajar é sofrer o correr desabalado do tempo
(bons momentos, passem lentos).
- viajo, e sei que o tempo voa assim como eu. parto, e a vida revela-se rara. sofro, e desejo partir ainda mais -
porque viajar é (se)(re)partir, e partir é sofrer, é um tipo de explodir, um jeito de ser inteiro
- é sofrer encontros, que já são em si violentas sementes de ausência. a violência do tudo e do nada, de apenas ser.
inês, numa manhã de adeus na bahia.
Fonte do Pinheiro
Há 4 meses
Viajar é sempre um novo encontrar.
ResponderExcluirBeijo