domingo, 8 de março de 2015

encruzilhada

gosto quando as letras destilam sentimentos. palavra é impureza, o invisível voa longe. descem pela escrita os engasgos que eu sinto (palavra é liberdade, lança os olhos no infinito). escrevo, e algo soa: meu coração revirado se liberta das imagens, vira som, me ultrapassa. e enquanto o tempo passa, algo morre, algo nasce, e por mais que algo renasça, não há tempo que reverta um processo de desprendimento. mas sei que dei uma volta grande e voltei a um lugar contíguo àquele onde me perdi. voltei outra, mas voltei toda. senti o que realmente importa. o que era meu, botei à prova, o que era eu, mandei embora (embora eu sinta também os espinhos que entram mais fundo, o correr do tempo, o medo do mundo). ainda sou só, mas cada vez mais só sou: dividida, incompleta, presa e livre, mutável, algo perdido e algo além. vejo que estou perdendo um alguém que sou eu mesma, escorrendo quente, entre braços e cheiros que me envolvem e que me devolvem um descontrole que é existir, a liberdade que é não pensar, enquanto as palavras guardam lembranças, os sonhos trazem promessas, os sons libertam sentidos, o silêncio consome os medos, a mente confunde o corpo, o corpo confunde a mente, o cheiro tira a razão, a distância segura o juízo, e o vento revolve tudo.
queria saber o que faço com isso, mas querer não basta pra mulher enorme vivendo aqui dentro, (querendo ser plena), porque sou pequena e não meço meus passos. mas peço perdão a quem eu assusto, e é o melhor que eu faço: assumir meus embaraços, silenciar meus discursos de fuga e ouvir os descompassos do coração que ainda bate aqui dentro, e no qual nunca vou poder caminhar.

inês.

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