quarta-feira, 26 de novembro de 2014

desistência

eu nunca tive disposição pra amores sem asas.
mas depois de alguns amores doentes, covardes, egoístas, desamores - dos que tentam sempre levar alguma vantagem, seja me devorando, seja me usando e enganando - achei que talvez fosse um bom momento pra um pouco de calma, paciência, e mesmo uma certa frieza, quem sabe. pras coisas miúdas que demoram muito a crescer terem tempo e espaço pra começar a brotar. no entanto, encontro sempre pessoas tão indisponíveis, tão indispostas a se entregar ao risco das coisas ainda não estabelecidas, a perder tempo juntos, a dar um tempo da correria individual e experimentar alguns pedaços desse mundo tão grande, a compartilhar um pouco de nada, de silêncio, de sonhos, de medos, de bobagens e risos...
não que eu queira o abalar de estruturas que eu tanto perseguia antes, mas eu preciso que alguma coisa se desconstrua.
os homens... ou querendo bancar o esperto, tendo muitas mulheres e planos e projetos, ou então simplesmente elegendo uma mulher que consideram adequada pra preencher um posto limitado nas suas vidas tão importantes. o resultado é eu ficar num sobreaviso constante, uma sensação de descarte iminente de uma relação que nunca chegou a se construir, porque afinal ninguém se dispôs a abrir mão de nada pra negociar uma vida um com o outro.
sempre assim, mais do mesmo, quase bom e quase lindo, mas cuidado que não é pra valer.
com as mulheres a coisa se dá tão diferente... somos inconstantes mesmo. eu, por exemplo, desejo a sorte de um amor tranquilo, manhãs entre lençois, tardes olhando o mar, ou um bicho, quem sabe, um poema, pensando sobre um problema entre a verdade do universo e a prestação que vai vencer... desejo uma espécie de lar, que pode ser inseguro, conflituoso, hoje tem, amanhã não, depois em dobro, mas que tem alguém, que me escuta e que também quer ser escutado, e que experimenta comigo os modos como nossos corpos, e vozes, e silêncios - e livros, e músicas, e lembranças, e projetos - constroem um amor.
ao mesmo tempo, duvido muito de tudo o que é certo, de tudo o que é garantido, ou fácil, eterno, previsível. alguém que segura as pontas o tempo todo e nunca não sabe o que quer, nunca discorda de mim, me parece uma roubada, e é por isso que certas pessoas incríveis nunca conseguiram entrar no meu coração pela porta que me desmonta. solidão, ainda que do avesso. talvez eu um dia me arrependa. eu já me arrependo. mas coração é terra em que não se anda. eu desejo o infinito.
as mulheres que eu amei talvez amassem demais, mas talvez precisassem de tão pouco, mas de um modo - como é possível que eu não tenha reconhecido? - quase desesperado, que eu sempre fugi, insensível. no fundo, sempre era questão de amizade, carinho, confiança na incerteza, tempo (e espaço).
ou seja, o mesmo que eu. só que reverso. (talvez eu um dia me arrependa. eu já me arrependo.)
mas então não sei, tem coisas energéticas cósmicas, físicas, espirituais, que pra mim só acontecem entre um homem e eu, e isso me deixa inclusive mais alerta, pra não deixar desencadear isso tudo com alguém que não está disposto a compartilhar um pouco mais que alguns sábados, uma cama, alguns fluidos...
estar alerta cansa, e estar sozinha também.

inês, meio cansada da vida.

2 comentários:

  1. Prefiro sempre amores passarinhos, de cigarro aceso, deitar no peito e adivinhar as nuvens, daqueles que são para a vida inteira mesmo que nunca tenham, de fato, acontecido.
    Ass: Seu Jarbas.

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