sexta-feira, 10 de outubro de 2014

lê e perde

quanto mais aperta mais ansia mais dispersa arde o olho arde a mente agoniza grifa-copia repete a linha pergunta à linha e uma pausa pro café uma pausa pra unha uma pausa pra pele uma pausa pra formiga uma pausa lenta interminável e aflita pra cada gretinha da janela uma pausa pro buraco e o buraco engole o texto e o medo engole o texto e a vida a verdade do universo a prestação que vai vencer o e-mail da avó a notícia da tortura muitos tiros muito ódio o nascimento de um rinoceronte albino a fotógrafa que captou a energia tudo engole o texto e o texto chia chia e as linhas se repetem se copiam chiam chiam e os dias fogem todos e o amor o caos as estrelas a madrugada a sujeira brincam perversos nesse quarto empestiado de nervo e cigarro e chá biscoito queijo amendoim lasanha pão laranja suco pipoca manteiga gordura sal e medo segredo torpedo desprezo desorientação e pedidos perdidos e negados e silenciosos nãos e o buraco engole tudo e o sono engole tudo e o medo engole tudo o amor engole tudo a palavra engole tudo a manhã engole tudo o sonho engole tudo o tempo engole tudo e tudo muda tudo dança tudo grita chia chia e amanhã é um novo dia e o texto me espera o texto me desespera o cigarro me alivia o buraco é alegria o amor me acelera e venha logo a primavera venha logo a nova era venha logo o fim do mundo venha logo o fim de tudo venha logo o fim do texto o fim do medo o fim do buraco o fim das pausas eternas pra tudo venha logo um novo tempo um novo medo um novo amor um novo texto novos olhos novos universos novas cartas e notícias e mensagens e palavras e prazos e sonhos.

inês

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