segunda-feira, 26 de novembro de 2012

parto

é um broto que me perfura violentamente a noite, e já não me sinto mais tão só.
como se nunca mais fosse possível me perder ou me encontrar, e como se todos os olhares possíveis fossem eternamente meus.
é meu útero que explode, um rebento viscoso, irritado, cansado de esperas, fêmeo, e só.
a falta amarga de um amor
(que não me sugue como se eu fosse um ídolo frágil,
que não aflore luminoso de um anulado vão escuro, 
que só me sugue 
e que já saiba se cuspir com algum pouco de cuidado)

dançam santos conosco, e eu no fim caminho sempre só

sem homens e seus quereres mesquinhos
só a lua, a força da caça, o descuido preciso do vento, o carinho dos fluidos femininos do mundo, o bater do meu coração
meus defeitos murchando sem eco
talvez
meus desencaixes todos tornando-se os rastros de uma entrega
uma suspensão
olhares noturnos
naturezas particulares e expostas, senhoras de si e do mundo, porque solitárias de homens, porque desajustadas, talvez.

não fosse a desilusão permanente, o contratempo teimoso da fé

não desabrochariam tantas flores, e as cigarras talvez cantassem seus últimos cantos de primavera de modo mais contido.

inês.

2 comentários:

  1. Passo para te desejar um Feliz Natal e um 2013 em GRANDE.
    Beijo
    Graça

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  2. Inês, achei este teu texto/poema soberbo.
    Parabéns pela excelência que o talento poético das tuas palavras nos oferece. Obrigado. Foste brilhante.

    Querida amiga, espero que o teu Natal tenha sido muito Feliz e desejo que o teu novo ano seja excelente.

    Beijinhos.

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