como se nunca mais fosse possível me perder ou me encontrar, e como se todos os olhares possíveis fossem eternamente meus.
é meu útero que explode, um rebento viscoso, irritado, cansado de esperas, fêmeo, e só.
a falta amarga de um amor
(que não me sugue como se eu fosse um ídolo frágil,
que não aflore luminoso de um anulado vão escuro,
que só me sugue
e que já saiba se cuspir com algum pouco de cuidado)
dançam santos conosco, e eu no fim caminho sempre só
sem homens e seus quereres mesquinhos
só a lua, a força da caça, o descuido preciso do vento, o carinho dos fluidos femininos do mundo, o bater do meu coração
meus defeitos murchando sem eco
talvez
meus desencaixes todos tornando-se os rastros de uma entrega
uma suspensão
olhares noturnos
naturezas particulares e expostas, senhoras de si e do mundo, porque solitárias de homens, porque desajustadas, talvez.
não fosse a desilusão permanente, o contratempo teimoso da fé
não desabrochariam tantas flores, e as cigarras talvez cantassem seus últimos cantos de primavera de modo mais contido.
inês.