segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Dos duplos que não me pertencem

Enquanto as coisas todas acontecem – acreditei que precisava da sua explicação pros mil platôs – meu duplo mergulhado no piche busca o cheiro e a maciez de banana da boneca que se perdeu pra sempre...

Um outro duplo sumiu entre os abismos de corais e búzios, talvez um dia a gente ainda se encontre entre tambores ou ondas...

Outro está absorto na contemplação do mar imenso do Rio de Janeiro naquele apartamento imenso, vazio e cheio de coisas minhas, congelado numa posição já inatingível por meus olhares ou mesmo meus sonhos...

Outro ainda respira aquele cheiro de incenso, gelo seco, madeira e poeira dentro do teatro.

Outro se perdeu em histórias fantásticas que bem podiam se verdade, e espero ainda que sejam.

Outro sorve um leite morno ao som de cantos de amor e entrega, e se aninha em braços seguros, e contempla as cores da Floresta Negra.

Outros talvez sejam doloridos demais pra que eu me lembre deles.

Outros já foram completamente libertos.

Inês.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Despétalas

Sonhei que te embalava
em meus braços não finos-de-heroínas-espanholas.
Despertei sentindo seus olhos
passeando distraídos
nalgum sonho só seu.

Sonhei que te devorava
(mais com sede que com fome)
ao som de uma salsa.
Despertei.
E no escuro do quarto seu silêncio arrebatou meus desejos.
E um soluço silencioso quase explodiu meu coração antes que eu voltasse a dormir.

Sonhei que te traía
com flores brancas de pétalas macias.
Despertei.
E vi que tu já não estavas...

Inês.

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