terça-feira, 5 de abril de 2011

ser-pele

cá está minha boca cheia (de cansaços e de quereres), e meus ouvidos à espera da costa do marfim (meus olhos ainda esperam o mundo inteiro), e os cheiros que estão na minha memória mal cedem espaço pros outros que aparecem.
sou toda tato, a serviço de leis que os homens de cá e de hoje desconhecem.

(porque é minha língua que toca o gosto, meu tímpano e cóclea e cílios e cérebro lambem o som apertam tocam esfregam ou resvalam, e meus olhos saem daqui e passeiam pelo dias - ou pela escuridão - deitando-se sob as mangueiras do mundo ou beijando o espelho.
o cheiro das coisas entra em mim sem limites pra tatear tudo o que sou e que fui, e às vezes queda-se na pele de dentro, nas peles dos meus duplos eus, ou mesmo nos pequenos pedaços de mim que se dão constantemente aos outros, e nunca mais desapega.)

algumas coisas passam por mim pra me abrir mais poros, superfícies permeáveis e infinitamente táteis, e não há tristeza ou alegria que me protejam do toque eterno lindo e dolorido entre o mundo e eu.

inês.

3 comentários:

  1. nada nos protege... nem o amor.



    obrigada pelo carinho.
    só uma dúvida: vc falou que gostou do depoimento do marcelo mayer... não entendi!

    =)



    bjsmeus

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