sábado, 17 de setembro de 2011

coração, terra em que não se anda...

não está certo sentir raiva das coisas do coração.
(mas deus sabe dos silêncios que me deu, e eu sei quantas vezes fui eu a aceitar um mundo tão maior que meus desejos.)


inês.

sábado, 9 de julho de 2011

hurricane

eu odeio o que a igreja, a tv e a escola fizeram à minha família
(e lamento por minha solidão, lamento por tantos espectros...)

os diamantes brilham, mas não emitem luz...
cristalina verdade, a solidão.

fecharei meus olhos de fantasma pra ver a floresta de cristais e espelhos
(fecharei meus olhos para dançar...)
mas antes preciso assassinar certos seres

alçar vôo num sonho e não ser mais só eu.

inês.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

das coisas que não existem.

irmão mais novo, ausência doída que muitas vezes quase escrevo. o que fazer com ele, que, antes tão jovem, tão alegre, hoje computador, desemprego, solidão, frustração, mediocridade sem volta, desinteresse pela vida, mulheres fúteis que nem ele mais suporta, classe média, provável maconha sem sentido, pressão da pressão da pressão, diploma guardado, nomes pesados, sermões, mágoas que suporta no coração ainda tão jovem e já tão entupido com gordura e ressentimento, depressão, completo torpor, provável medo, afastamento do mundo, falsa e desesperadora incapacidade, improdutividade e passividade absolutas, a vida passando.

que sensação terrível é essa acumulando-se há algum tempo e tornando tudo tão mais escuro e sufocante e triste?

deus não permita que esta casa caia nessa perdição, ou são muitos os corações que se perderão para sempre...

inês

quinta-feira, 21 de abril de 2011

libéralité, ou: bruta flor do querer

só em casa, no meu quarto na minha cama fumando um baseado bem feliz escutando raul de souza meu deus que coisa maravilhosa.
pensando nas coisas.
vou estudar daqui a pouco é uma delícia (não vou estudar instrumento, mas também seria bom se eu estivesse na vibe).
vou daqui a pouco viajar com uma mulher, ela parece uma fada de cabelos curtinhos comendo manga de vestido branco no meio de um bosque ensolarado. e a gente briga, já, as duas, e parece que as brigas só dão mais tesão espero que este instante dure bastante... hum, vou comer uma fruta. vou pra rede.

inês, bem viva.

terça-feira, 5 de abril de 2011

ser-pele

cá está minha boca cheia (de cansaços e de quereres), e meus ouvidos à espera da costa do marfim (meus olhos ainda esperam o mundo inteiro), e os cheiros que estão na minha memória mal cedem espaço pros outros que aparecem.
sou toda tato, a serviço de leis que os homens de cá e de hoje desconhecem.

(porque é minha língua que toca o gosto, meu tímpano e cóclea e cílios e cérebro lambem o som apertam tocam esfregam ou resvalam, e meus olhos saem daqui e passeiam pelo dias - ou pela escuridão - deitando-se sob as mangueiras do mundo ou beijando o espelho.
o cheiro das coisas entra em mim sem limites pra tatear tudo o que sou e que fui, e às vezes queda-se na pele de dentro, nas peles dos meus duplos eus, ou mesmo nos pequenos pedaços de mim que se dão constantemente aos outros, e nunca mais desapega.)

algumas coisas passam por mim pra me abrir mais poros, superfícies permeáveis e infinitamente táteis, e não há tristeza ou alegria que me protejam do toque eterno lindo e dolorido entre o mundo e eu.

inês.

terça-feira, 29 de março de 2011

bilhetinho

não sabes ainda... mas danças em mim desde aquele instantezinho de ontem à noite em que nossas peles se chocaram. devo confessar que desde sempre tive predisposição a te amar, mesmo antes de ver de tão perto sua alma açucarada e dançarina, mesmo antes de me permitir imaginar tão pouco espaço entre a gente. tens algo de moderno, de artista, de outros planetas e de goiabeiras e riachos e porteiras. tens um viço e uma beleza que adormecem certas partes do mundo. tens fome e delicadeza (e por enquanto tens a mim). vamos assistir a um filme? vamos fumar um baseado, dançar bolero, tomar uma cachaça ou suco refrescante? vamos pra cachoeira vamos pra praia vamos ficar pelados? vamos ter um filho? vamos pra recife?

eu te amo.

sábado, 26 de março de 2011

prece

frio metálico com calor de fornalhas - frustração de me ver no círculo vicioso da agressão
quase tudo é amargo e tem gosto de sangue
só o amor me libertaria agora, só dele não desisti
ou quem sabe a guerra, amarga, metálica
quem sabe qual dor de liberdadentrega.

estou preocupada com o completo sumiço das borboletas e com o movimento messiânico dos grilos sapos pássaros rumo à terra sem mal. o livre arbítrio agora me assusta. a dança dos astros e a sálvia e a noite.

bela boneca de piche, sê feliz! te devoro em sonhos. mas o cigarro me assusta. (o fim. que a propósito já existe desde sempre.)

deus acompanha meus currículos. e que meu coração volte a querer alguém.


amém.

domingo, 6 de março de 2011

estação infinita da lama com brocal

há carnes deliciosas excitando baterias ensurdecedoras no meu corpo
(na cama que escolherei?)
e crianças musicais transformando latinhas em futebol.

e bêbados,
como há sempre
e guardas.

(há becos
protegidos pela guarda municipal
e isolamentos da rede globo e da polícia.)

há cachaça boa
lá da região de salinas
há pó.
e sonhos e lantejoulas e sapatilhas.

há, como sempre, humildade e brodagem além dos racismos
além de muito suor e sereno.
há a vibração da mãe áfrica
a libertação de todos os gozos ancestrais.

mas aqui nada tão negro tão forte tão brilhante tão fluido tão comovente e vibrante quanto o carnaval do meu tão longe recife enchendo os mangues as ruas as casas as portas os olhos
os corpos dos que se entregam aos deuses do amor e da guerra

(e abandonam suas almas
entre a boiada lírica da quarta feira de cinzas na rua da boa hora).

inês.

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