Ah, mas eu adoro ser mulher. Depois de passar tanta raiva por ciúmes de cocota pra cima de mim (a esposa do vocalista da minha última banda deu chilique quando a gente viajou junto e por isso agora eu tou meio de molho com eles ô vontade de estourar uma pele rosada), por desesperos ridículos de marmanjos patéticos e babões que acham que eu caio sem querer no discurso porco deles, por não gostar dos meus pêlos de baixo e ter que passar 40 minutos na cera todo mês, por não aguentar mais ficar sozinha mas peferir ficar sozinha do que tão mal acompanhada, por fazer de conta que acredito em mais mentiras do que as em que já acredito, por não saber impor uma dúvida quando no meio desses babacas moderninhos que sabem nomes demais em inglês e precisam esconder suas fraquezas de merda atrás dos seus trabalhos até que bacanas mas no fundo de merda: ainda posso me embriagar na beleza das coisas, ainda posso ir pra um inferninho, berrar que nem louca e pagar de turista, ainda posso cospir no passeio, e, graças ao bom deus, sei que sou forte, que sangro todo mês, que posso parir uma pessoa, que posso de repente mudar pra bem longe e nunca mais ver ninguém que fale português e que essa sensação de preguiça dos homens amanhã passa e eu vou estar novamente como uma mulher qualquer que usa vestido e passa hidrante no cotovelo, que chora de amor e sorri quando vê bichos dormindo.
som: Nostalgia 77 Octet: Weapons of Jazz Destruction
inês, que escorre nervosa.
Fonte do Pinheiro
Há 4 meses