quarta-feira, 31 de março de 2010

menstruation times

Ah, mas eu adoro ser mulher. Depois de passar tanta raiva por ciúmes de cocota pra cima de mim (a esposa do vocalista da minha última banda deu chilique quando a gente viajou junto e por isso agora eu tou meio de molho com eles ô vontade de estourar uma pele rosada), por desesperos ridículos de marmanjos patéticos e babões que acham que eu caio sem querer no discurso porco deles, por não gostar dos meus pêlos de baixo e ter que passar 40 minutos na cera todo mês, por não aguentar mais ficar sozinha mas peferir ficar sozinha do que tão mal acompanhada, por fazer de conta que acredito em mais mentiras do que as em que já acredito, por não saber impor uma dúvida quando no meio desses babacas moderninhos que sabem nomes demais em inglês e precisam esconder suas fraquezas de merda atrás dos seus trabalhos até que bacanas mas no fundo de merda: ainda posso me embriagar na beleza das coisas, ainda posso ir pra um inferninho, berrar que nem louca e pagar de turista, ainda posso cospir no passeio, e, graças ao bom deus, sei que sou forte, que sangro todo mês, que posso parir uma pessoa, que posso de repente mudar pra bem longe e nunca mais ver ninguém que fale português e que essa sensação de preguiça dos homens amanhã passa e eu vou estar novamente como uma mulher qualquer que usa vestido e passa hidrante no cotovelo, que chora de amor e sorri quando vê bichos dormindo.

som: Nostalgia 77 Octet: Weapons of Jazz Destruction


inês, que escorre nervosa.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Encontros e translations

Nem tive a decência de perguntar se a brincadeira estava valendo e talvez já estivesse deixando-me escorrer displicente pra dentro de alguma das suas idéias, e agora bebo de você uma coisa tão nova pra mim que nem sei se de repente o que eu engulo é mais do que eu posso (posso?).
Não tenho o direito de culpar seus velhos atrelos pelos meus tão novos medos. Contemplo a coragem de viver e de me libertar que nasce desses novos encontros, saboreio a nova busca pelo que em mim era antigo e agora é infância e sorvo a sua beleza de corais frescos e estrelas do mar.
Eu sei - e é bonito demais pro meu coração não doer um bocado - que na praia ou no rio eu piso nas respostas que procuro, e que as perguntas, agora cristalinas, nesta idade se desfazem pra compor a beleza do mundo.
Eu sei - e haja coragem pra viver sabendo - que tudo é tão simples e tão sem palavras como uma manhã ou uma fruta mordida.

Inês.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Perdoe-me padre...

Ah, minha cabeça ainda rodando.
Jorge, o diretor supersensível e interessante que por longos anos de conservatório me Como que é uma palavra que quer dizer assim quando uma pessoa fica a espreita de algo, com desejo daquilo, até que fique pronto?
Me pediu em casamento.
Eu ri.
Pediu de novo.
Desssa vez eu chorei, mas ainda sim disse não.
Depois de tanto não, um dia me pediu um beijo.
(e depois de tanto não, um dia eu disse sim).

Acontece que o cineasta tinha que ir viver no estrangeiro, sentir um pouco da Europa, e queria ir com esposa e tudo.
De novo eu disse não.
Num mês ele estava casado com uma veterinária e se mudou pra lá. Quando me disse, chorou de raiva.

Mas na verdade, ela não era veterinária, ela era uma princesa linda. Uma fada. A princesa das fadas lindas. Quando os dois vieram de férias, meses depois, estavam em crise. Fizemos um trabalho juntos, eu e ele, e rondamos pelas cidades por duas ou três noites. Com beijo e carinho e sede.
Aí ele voltou pro longe.
Um mês depois, eram solteiros de novo, o diretor na Europa e a princesa das fadas no Brasil.

Ontem a vi na cidade. Estava linda como uma princesa das fadas, só que bêbada como uma princesa bêbada, e me chamou pelo nome e me abraçou com ternura. Eu não tive culpa se em vez de ela me bater, arrancar meus cabelos ela quis lamber o meu pescoço, morder o meu nariz e chorar entre os meus seios.

Não fiz nada de errado, ontem, mas sei que cometi um pecado.

Inês.

sexta-feira, 19 de março de 2010

O blablablá das entranhas corroídas e a puta que o pariu

Antes de mais nada: Luiz, eu te amei um bocado. Que coisa olhar pra você agora tão se fazendo de menino, e isso não fazendo mais efeito nenhum no compassamento do meu coração!

Getúlio é o cineasta - meu caro! - que goza sobre minha caligrafia debochada e arranca de mim a estrela cintilante que derrama minha juventude pela noite.

Fabiano, querido, me desculpe por não te amar e por na verdade ter saído não pra comprar cigarros mas pra sumir. Aqui, te abandono.

Ricardo, seu sambista safado, essas brincadeiras nossas que nunca acordam - graças a deus! - alimentam um ritmo cada dia mais gingado nos sons que acontecem à minha volta, e eu poderia dizer que isso é amor, quisesse fazer de conta, mas é a mais pura malandragem assexuada e onírica transfigurada em som e em sonho.

Maestro desquitado, por favor, me desculpe os semitons fugitivos, e permanece dançando sobre a pureza eterna da mnha pele. Seu amor tão denso e macio (ternura) pelos meus intervalos e descompassos me desconcerta, e sobretudo me comove.

Moça bonita do vestido oriental e sapatos paulistanos, que passa olhando pra mim por entre as mesas do refeitório: -enfia essa buceta no seu cu, que tou com preguiça de me lascar.

Ó montes de coisas que finalmente se tornaram montes de coisas: não cabe nada aqui dentro agora, que íris cintilantes lambem meu corpo e meus silêncios todos.

Acho que estou apaixonada por outro.

Inês.

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