depois de muito tempo esperando algum retorno de quem devia estar me orientando, percebo, então, que, desde o início, tal orientação nunca viria. mas não bastava que eu soubesse de antemão que não devia estar esperando nada: a vida quis que eu esperasse com fé, até que as desilusões atropelassem-se umas às outras e eu enfim me desse conta de que estou eternamente terrivelmente sozinha pra sempre, e não há nada que eu possa fazer com relação a isso.
aí eu tentando me libertar do ego começo a perceber que o problema tá comigo. como se alguma maldição, talvez mesmo auto-maldição-pós-trauma, quem sabe...
ou o amor não existe.
depois de muito tempo esperando alguém que se dispusesse a trocar comigo algum tempo e algum espaço de vida, ou de amor ou de beleza, percebo, já desesperosa, que tal partilha talvez nunca venha, mesmo. mas não bastava que alguém um dia me dissesse olha, você é infértil, você não nasceu para conviver nem construir nada que dure mais que quatro meses com ninguém. foi preciso que a minha carência fosse tamanha e que me cegasse e me fizesse acreditar estar construindo alguma coisa até perceber que nada nunca existiu de fato entre mim e ninguém. só ilusões, frustrações, esperas crueis, confusão.
(o amor não existe)
e, de repente, tudo de novo. flerte, corações, desejos, chamados, assédios, agrados, promessas, pedidos (ilusões, ilusões, ilusões), e eu percebo já de cara que isso tudo me dá nojo, o desejo dos outros me dá nojo, o encanto dos outros me dá nojo, me dá medo e me dá nojo, porque eu tenho um oco podre dentro de mim, um vazio que espanta qualquer um que se disponha a conhecer.
aqui, nada brota. só eu, só, a minha solidão, as minhas toneladas de desilusões e sonhos mortos, a espera por frutos que nunca nunca brotam, meu medo, e agora também meu nojo.
não há espaço pra mim no mundo. acreditei por anos que pudesse haver a possibilidade de construí-lo, mas agora me dou conta de que tudo sempre é em vão e eu nunca chego a lugar algum, só rodeio, desejo, atraio, persigo, mas no fim, não há quem me acolha, e não há quem me adentre.
o amor não existe pra mim, e talvez nunca tenha existido (ou estarei pagando até o fim da vida por ter abandonado quem um dia me amou e se abriu pra mim? eu já me arrependi. eu já sei que não se joga uma pessoa fora).
só acordos, conveniências, aparências, distrações, aproveitamentos, e descuidos, desprezos, vazios.
o mundo é um lugar incrível, mas já não faz o menor sentido habita-lo tão só.
inês, só, como sempre, e sem saída.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
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