culpa, perdão, paz, dor no peito, fluir entre incertezas, lutar contra injustiças... mas que diabo!
tem algo diante dos meus olhos, mas meu ego inchado de dor não permite que eu enxergue nada.
cada dia é um ciclo mágico, mas meu medo das incontroláveis trapaças da vida me aprisiona nos repetidos ontens.
sim, tudo foi ruim e trágico de novo e de novo, desde então... mas não porque tem que ser, e sim porque não fiz faxina, só espanei os móveis por cima.
e, desde minha primeira certeza de que não quero mais ser tão só, nunca mais me permiti a deliciosa fonte de luz e mudança que sempre foi estar comigo.
a ansiedade e a certeza inundaram meus caminhos, e procurei me cercar de qualquer coisa, qualquer gente... até não ver nem escutar mas nada.
falta mergulho, talvez.
inês, a quem a vida mais uma vez poupou de um repentino e deslocado filho, porque aquilo que se alimenta de amor e se liberta ainda está por vir...
sábado, 19 de abril de 2014
quinta-feira, 10 de abril de 2014
cinzas
eu pensei muito, sofri com meus pensamentos, quis parar de pensar, esquecer, viver, simplesmente, morrer simplesmente...
(no afã de que o veneno da desesperança me abandone como uma nuvem que passa, até mesmo a morte visitou minha cabeça algumas vezes, a morte sem coragem de quem entrega os pontos, desiste)
olhei lá pra baixo, bem longe, bem fundo, imaginando se tudo seria questão de segundos, se haveria tempo pro arrependimento ou apenas paz.
em seguida me assolavam aquele velho sentimento de que a vida é mesmo uma correria, um sonho, um susto, um sopro, e o medo de que seja verdade o fato de que vai acabar mesmo uma hora ou outra, como já foi acabando pra tantos queridos irmãos inesperadamente mortos.
não quero morrer, quero viver pra sempre, ainda que com emoções tão doloridas e o coração tão desamparado, mas preferencialmente com alguma paz entre meus dias e noites, alguma espécie de resignação interiorizada diante do que parece ser falta mas não é, e um encantamento modesto diante das pequenas-imensas liberdades e belezas que me tangenciam. ou me atravessam. ou inundam, ou simplesmente se sugerem...
me perturba ainda um certo encontro místico e múltiplo, que, de repente, me deu respostas pra perguntas que talvez nunca apareçam, e que me revirou internamente de um modo tão potente e ao mesmo tempo tão invisível, que acabei me fortalecendo enquanto me fragilizava. e, de repente, do encontro fizeram-se rupturas desconcertantes, respostas aparente desconexas pra questões que lá no fundo eu entendo, mas que não posso falar...
(aquela casa está lá, enquanto estou aqui precisando e sozinha, e pegar um ônibus e de repente retornar parece ser como se eu a encontrasse demolida, escombros de um maremoto, destroços de um lar pós-tufão, ruínas, poeira, cinzas... em sonhos muitas vezes a visito, ou habito, ou simplesmente procuro, mas zelador sempre me aparece de costas. tudo é igual, e ao mesmo tempo diferente, o que faz com que eu sempre me desperte com uma nostalgia doída, de alguém que visita uma vida passada)
a falta que eu sinto é a falta de um lar destruído pra sempre. lá não é meu lugar, eu sei por dentro. já saí de lá e espero que lá saia também de mim.
meu coração está coberto de pó. eu sei.
sei que preciso sacudir tudo, lavar, deitar coisas fora, deitar o próprio coração fora, posto que se regenerará, certamente, para que eu floresça novamente, absorva luz, viva...
mas me sinto traída por deuses, e por desconhecidos estranhos a quem eu chamava de mãe, de pai e de amor. sendo que tenho uma mãe e um pai de verdade, que não podem evitar meus sofrimentos, mas que nunca aceitariam que eu fosse usada por pessoas monstruosas e más, que nunca me trairiam, e que, infelizmente, não vão viver pra sempre também. serão meus doces pais enquanto o tempo for propício, e depois se transformarão em plena lembrança, imagem, saudade... em algo que a morte fará parecer uma falta brutal, mas que o tempo (o tempo rei, passado, presente e futuro desaguados) dissolverá ainda numa energia sem mistério.
(e, ao mesmo tempo, um cachorro e um gato me olham, sempre, enquanto estou à noite me esgueirando pelas ruas. santos me visitam em sonhos, seja incorporando na minha avó no meio de uma guerra, seja de costas, sempre de costas mas com cheiro de outro mundo, seja me mostrando vidas passadas, futuras, seja dançando, seja me dizendo não.)
coisas boas virão?
eu só quero dinheiro pra pagar minhas contas. e um amor que seja doce, ou que seja selvagemente fiel, ou que cozinhe, ou que seja pescador...
a morte virá. (ela vem a todo momento, não descansa nunca de nos ceifar cômodos, cheiros, vozes, respostas, alegrias, apostas, suspiros, sorrisos, força...)
e dela eu quero que venha um pouco mais tardia do que ameaça vir, que me deixe um tempo suficiente pra me resignar de alguma forma, mergulhar de olhos abertos no lago escuro dos sonhos, ou mergulhar de olhos fechados no mar cristalino da vida, ou dormir com uma criança no colo sob uma árvore que eu mesma tenha plantado, ou aprender, enfim, a só ser.
inês.
(no afã de que o veneno da desesperança me abandone como uma nuvem que passa, até mesmo a morte visitou minha cabeça algumas vezes, a morte sem coragem de quem entrega os pontos, desiste)
olhei lá pra baixo, bem longe, bem fundo, imaginando se tudo seria questão de segundos, se haveria tempo pro arrependimento ou apenas paz.
em seguida me assolavam aquele velho sentimento de que a vida é mesmo uma correria, um sonho, um susto, um sopro, e o medo de que seja verdade o fato de que vai acabar mesmo uma hora ou outra, como já foi acabando pra tantos queridos irmãos inesperadamente mortos.
não quero morrer, quero viver pra sempre, ainda que com emoções tão doloridas e o coração tão desamparado, mas preferencialmente com alguma paz entre meus dias e noites, alguma espécie de resignação interiorizada diante do que parece ser falta mas não é, e um encantamento modesto diante das pequenas-imensas liberdades e belezas que me tangenciam. ou me atravessam. ou inundam, ou simplesmente se sugerem...
me perturba ainda um certo encontro místico e múltiplo, que, de repente, me deu respostas pra perguntas que talvez nunca apareçam, e que me revirou internamente de um modo tão potente e ao mesmo tempo tão invisível, que acabei me fortalecendo enquanto me fragilizava. e, de repente, do encontro fizeram-se rupturas desconcertantes, respostas aparente desconexas pra questões que lá no fundo eu entendo, mas que não posso falar...
(aquela casa está lá, enquanto estou aqui precisando e sozinha, e pegar um ônibus e de repente retornar parece ser como se eu a encontrasse demolida, escombros de um maremoto, destroços de um lar pós-tufão, ruínas, poeira, cinzas... em sonhos muitas vezes a visito, ou habito, ou simplesmente procuro, mas zelador sempre me aparece de costas. tudo é igual, e ao mesmo tempo diferente, o que faz com que eu sempre me desperte com uma nostalgia doída, de alguém que visita uma vida passada)
a falta que eu sinto é a falta de um lar destruído pra sempre. lá não é meu lugar, eu sei por dentro. já saí de lá e espero que lá saia também de mim.
meu coração está coberto de pó. eu sei.
sei que preciso sacudir tudo, lavar, deitar coisas fora, deitar o próprio coração fora, posto que se regenerará, certamente, para que eu floresça novamente, absorva luz, viva...
mas me sinto traída por deuses, e por desconhecidos estranhos a quem eu chamava de mãe, de pai e de amor. sendo que tenho uma mãe e um pai de verdade, que não podem evitar meus sofrimentos, mas que nunca aceitariam que eu fosse usada por pessoas monstruosas e más, que nunca me trairiam, e que, infelizmente, não vão viver pra sempre também. serão meus doces pais enquanto o tempo for propício, e depois se transformarão em plena lembrança, imagem, saudade... em algo que a morte fará parecer uma falta brutal, mas que o tempo (o tempo rei, passado, presente e futuro desaguados) dissolverá ainda numa energia sem mistério.
(e, ao mesmo tempo, um cachorro e um gato me olham, sempre, enquanto estou à noite me esgueirando pelas ruas. santos me visitam em sonhos, seja incorporando na minha avó no meio de uma guerra, seja de costas, sempre de costas mas com cheiro de outro mundo, seja me mostrando vidas passadas, futuras, seja dançando, seja me dizendo não.)
coisas boas virão?
eu só quero dinheiro pra pagar minhas contas. e um amor que seja doce, ou que seja selvagemente fiel, ou que cozinhe, ou que seja pescador...
a morte virá. (ela vem a todo momento, não descansa nunca de nos ceifar cômodos, cheiros, vozes, respostas, alegrias, apostas, suspiros, sorrisos, força...)
e dela eu quero que venha um pouco mais tardia do que ameaça vir, que me deixe um tempo suficiente pra me resignar de alguma forma, mergulhar de olhos abertos no lago escuro dos sonhos, ou mergulhar de olhos fechados no mar cristalino da vida, ou dormir com uma criança no colo sob uma árvore que eu mesma tenha plantado, ou aprender, enfim, a só ser.
inês.
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